Na terça-feira, 8 de novembro de 2016, o mundo assistia perplexo à eleição de Donald Trump a presidente dos EUA.
Em Criciúma, o estudante de Direito, Paulo Ribeiro, também não conseguia acreditar no que via. Levado pela certeza que institutos de pesquisa e analistas políticos, estava seguro de que era só uma questão de tempo para que Hillary Clinton fosse declarada a primeira presidenta do pais. Apesar dos cerca de 3 milhões de votos a mais, o Republicano ascendeu ao posto de 45º presidente americano.
O tamanho do erro generalizado despertou uma quase obsessão no jovem com então 19 anos, que sempre viveu na cidade catarinense.
“A figura do Trump tornou a corrida presidencial diferente. Ele era uma figura mais midiática, com muita mídia espontânea, e isso é valioso. Efeito similar ao que vimos com Bolsonaro depois da facada. E algumas coisas que ele falava, ele claramente sabia que aquilo não era viável, não era, mas ele conseguia pautar a mídia para tratar daquilo. O muro do México é um exemplo. Quando eu me dei conta, em 2018, minha timeline no Twitter era inteiramente em inglês.” Hoje Paulo é funcionário público do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Mateus Oliveira, assim como Paulo, tem 23 anos. Assessor Parlamentar, cursa o último ano de Ciência Política.
De pai cearense e mãe capixaba, é o exemplo de família que migrou à capital em busca de uma vida melhor.
O Whatsapp
Foi a participação de ambos num grupo de Whatsapp que uniu os amigos.
“Paulo é muito amigo de amigos meus, e acabamos nos conhecendo num grupo de Whatsapp no fim de 2018.”, começa Mateus.
Paulo completa, “É um grupo que fala de tudo, não só de política. Percebemos que tínhamos alguns interesses em comum, como a política americana, e fomos nos aproximando. Mas tudo virtualmente: Nós nunca nos vimos pessoalmente”.
Esta última informação não deixa de ser uma surpresa, pois juntos criaram a conta que ultrapassou neste mês os 100 mil seguidores.
Profissionalismo
Inicialmente, a intenção era criar um canal de contato com os amigos, para pesquisar e compartilhar conhecimento sobre o processo eleitoral americano. Mesmo assim, chamaram os jornalistas Guga Chacra e Caio Blinder, especialistas no tema, para verem o perfil que haviam criado. Ambos o seguiram.
Desde o começo, zelaram por promover uma curadoria de conteúdo. Toda publicação era acompanhada de pesquisa completa, que oferecesse contexto para facilitar a compreensão do público. Apesar de não serem jornalistas, há neles uma ética jornalística ressaltada.
A própria escolha da nome do perfil já demonstrava uma preocupação com o trabalho que estavam prestes a começar. Uma vez no ar, as primeiras postagens aprofundaram o tema. Eles focaram na divulgação de pesquisas confiáveis, nas threads com a história de cada candidato e na história do sistema americano.
A divisão de trabalho se tornou orgânica. Mateus, mais familiarizado com ferramentas de design, é responsável pela edição de vídeos e imagens, além da programação de conteúdo. Paulo faz as pesquisas mais elaboradas e tem uma lista de contas a serem acompanhadas que garante acesso mais rápido ao que nem mesmo veículos tradicionais de imprensa tiveram acesso.
“Eu percebi, quando passei a seguir a conta de um dos assessores da campanha de Biden, que as informações de bastidores saem ali em primeira mão. Então a gente começou a trazer pro Brasil conteúdo que ninguém nem sabia que tinha, com nomes que ninguém conhecia. De uma certa maneira, a gente saía na frente dos outros.”
Crescimento exponencial
Inicialmente, a meta era obter dez mil seguidores para a conta. Mas os números foram crescendo muito além do esperado. E o crescimento trouxe desafios inesperados.
“Nosso público no começo era bem jovem, de gente querendo conhecer mais do processo eleitoral americano. A linguagem, então, era mais informal. Com o tempo, e com o crescimento do perfil, que trouxe gente mais velha e com mais entendimento do que acontece, a gente teve que aprender a encontrar o tom certo, que não fosse afastar aquele público mais jovem por conta de uma abordagem mais sóbria, nem que fosse afastar este novo público que demandava um tom mais formal.”
O melhor caminho para navegar nesses dois segmentos foi focar ainda mais na curadoria de conteúdo, e criar duas personas de resposta a interações. Mateus com os mais novos, e Paulo com os mais velhos. Funcionou.
“Às vezes a gente pegava no pé um do outro por causa da maneira como falava. De vez em quando ainda tem algo assim, mas é raro.”
O primeiro boom de crescimento da conta veio com a confirmação de Kamala Harris como candidata a vice-presidente na chapa de Joe Biden. O segundo salto veio com o acompanhamento das convenções dos partidos, especialmente o Republicano.
O agitado processo americano contribuiu também para a ascensão da conta. Conta Mateus que na semana da eleição era comum eles virarem a noite e ir trabalhar sem dormir no dia seguinte. Nesta semana, o engajamento do perfil atingiu a casa de milhões.
De Eleições EUA a Eixo político
O prolongamento da campanha eleitoral americana por meio da não aceitação de derrota de Trump contribuiu para que a curva de queda vista pós eleição trouxesse novos seguidores. Foi neste período que a dupla começou a testar novos conteúdos para perceber a aceitação do público para novos temas.
“A gente começou a testar algumas publicações para entender como o público aceitaria outros temas fora das eleições americanas. E continuamos tendo um nível de engajamento tão alto quanto antes.” Conta Paulo. “E quando perguntamos abertamente sobre o plano de transformar o perfil em algo mais abrangente, mas ainda falando de política, só recebemos bons retornos. Isso facilitou demais para que migrássemos, apesar de manter a arroba, para o novo projeto do Eixo Político”.
“Vamos continuar falando de política. É o que a gente gosta de fazer. Dedicar-se em tempo integral ao perfil, no entanto, ainda está longe do possível.”
(A partir de 1 de fevereiro, o perfil mudou o nome de usuário de @EleicoesEUA para @eixopolitico)
Reconhecimento
No dia da invasão do Capitólio, era comum ver vídeos que apareciam primeiro no perfil pouco depois ganhar as telas das mídias tradicionais. Eles contam que, no fim do dia, receberam uma mensagem de um jornalista de uma emissora elogiando o perfil e confirmando que estavam acompanhando e usando o perfil como referência. O prêmio por um trabalho muito bem realizado.
Ao mesmo tempo, torna-se comum serem reconhecidos na rua, ou até mesmo em aplicativos de paquera. A fama veio.
“É especial para mim poder me formar na faculdade e ter feito algo tão importante.” Completa Mateus. Eles merecem.
Perfil para a Papo de Galo_ revista #10, de 29 de janeiro de 2021, páginas 26 a 29.
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