Dona Célia nem lembra quando o Jota, espécie de andarilho da cidade, começou a almoçar com ela todos os dias. Lembra-se de como perfeitamente, no entanto. Atraído pelo cheiro do almoço que preparava, Jota deu-lhe à sua porta pedindo uma ajuda em dinheiro para comer. Condoída, convidou-o a entrar e serviu-lhe um prato cheio, bem servido. Pelo visto, para sempre.
Geraldo também pensou em colaborar na recuperação do Cris, metido com umas coisas pesadas lá no interior. Tinha umas dívidas o menino. Convidou-o a ajudar numa obra que precisava fazer dentro de casa. Em seguida, teve que demiti-lo quando, após dias de trabalho de baixíssima qualidade, notou sumirem algumas coisas de casa.
Mariana sentiu-se de coração partido ao ver uma senhora, situação precária, na porta da igreja, por onde passava todos os dias a caminho do trabalho. No primeiro dia, trouxe-lhe café-da-manhã. Após um tempo, percebeu que ela aparecia com uma criança pequena, de colo. Mais uns dias, outra criança. Surpreendeu-se, mesmo, quando viu mesa já posta na calçada, povo já reclamando do bolo que não estava assim tão molhadinho e do café já um pouco frio. “Melhor comprar uma nova garrafa térmica”, sugeriram, ao mesmo empo em que atacavam uma cesta de biscoitos amanteigados.
Camargo era gerente de uma multinacional. Não se destacava muito, embora também não fosse dos piores. Era consistentemente mediano. Controller, comandava e cuidava do orçamento da companhia com unhas e dentes. Até que chegou na empresa o Ronaldo. Chefe do marketing, fanfarrão e falastrão, em uma reunião de equipe, ao ver sua solicitação indeferida para uma nova ação de propaganda, chamou-o de Camargalhão. Sem contestação, o “mar” se foi cortado em pouco tempo. De licença médica, o quadro de depressão profunda é acompanhado com atenção pelos médicos, em especial ao vê-lo chorar copiosamente nos intervalos comerciais de qualquer programa de TV.
Luciellen trabalhava como vendedora de uma grande rede de varejo de moda. Fast fashion, para os chegados. O gerente era o Osvaldo, muito bem visto na matriz, rígido com o chão de loja. Luci, como pedia que se referissem a ela, perto do Natal, queria um adiantamento no salário, facilmente descontado com as comissões esperadas de fim de ano. Sabida de seus atributos físicos, pedia com uma malemolência que desnorteou o Osvaldo. Era política da empresa, não poderia adiantar valores aos funcionários, mas o que seria aquele chamego todo? Na insistência, engraçou-se pro lado da moça, imaginando estar retribuindo. Demitido por assédio sexual, tenta descobrir como fará para retomar a carreira.
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Para todos eles, uma coisa em comum. Tivessem se criado na Bahia, nada disso teria sucedido.
Dizem os sábios, com sorriso de canto de boca e couro curtido de tanto apanhar da vida, e anotem estas palavras embebidas de sapiência e vivência empírica, escrito do jeito falado: dê dinheiro, mas não dê ózadia.
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