Acalmem-se, criaturas.
Antes de tirar conclusões precipitadas, porém potencialmente verdadeiras, deixem-me amaciar o bife.
Respirou fundo? Pronto.
Eu, apesar delas precisar, sou um pouco avesso ao mundo das redes sociais. Elas foram segmentadas, a do mundo cor-de-rosa cheio de falsidades, a do encontro de senhoras e senhores reaças, a do caos absoluto, até meteram uma nova por agora, porque não bastasse ser chato ouvir áudio de Whatsapp – imagine um podcast, mas derivo – tiveram a ousadia de meter uma que é quase uma grande mesa de boteco coletivo, mas sem a cerveja, o garçom gente fina, o petisco e o tapa na mesa pra soltar aquele “aí é que tá”, que recoloca o planeta nos eixos.
E tem aquela outra rede monotemática, do mundo corporativo empreendedor, carregada de mensagens de autoajuda, positividade tóxica, roubo de textos, videozinhos para aumentar engajamento e de geradores de conteúdo gerando conteúdo para você aprender a gerar conteúdo, num ciclo infinito de nada sobre tela.
Tá, você percebeu: eu não gosto do tal do LinkedIn. Especialmente durante o período pré últimas duas Copas do Mundo. Porque proliferaram, dentre os empreendedores topzera, CEOs de MEI, as mensagens de repúdio ao evento, e clamando o povo a continuar trabalhando, a produzir, a gerar riquezas para o país.
Se já dizem trabalhem enquanto eles dormem, imagine o que não dizem enquanto os outros se divertem? Então.
Ranço define.
Liderados por certo economista-show, a horda projeta no outros a própria incapacidade de se divertir, sempre com um ar de superioridade sem fundamento. RH adora, genitálias tesas e/ou escorrendo, olha ali um exemplo de profissional ideal!
Odeio.
E tá lá o povo emocionado, fazendo feita e mais rasa as reservas da Cantareira copiada de perfil do Instagram, pruns baterem palma e falarem, “lindo, o Brasil precisa de gente como você”.
Profissionais.
O Carnaval é época especial para a superação da postura de quem ‘trabalha e não descansa’. Reclamam do feriado, dos negócios fechados, do impacto da economia.
Porque, meu amigo, não basta ser um ignoran-te social, um asno histórico, uma besta compor-tamental. Tem que se superar mesmo na burrice.
Neste 2021 de um Carnaval que não teve, a imprensa bombardeia notícias e levantamen-tos, em modernos e estilizados infográficos, o buraco financeiro desastroso provocado pela… ausência do Carnaval.
Valei-me, minha nossa senhora da ignorância.
Aí percebo que esta gentinha, que tem nojinho de glitter e acha aglomeração uó, é que nem cachorro correndo atrás da roda do carro.
Late, baba, ameaça, mas quando o carro para… Não faz a menor ideia do que fazer, nem vê sentido no ato em si.
(Aliás, peço perdão por comparar este bloco de infames a cachorros, que, como vimos na edição #10 da revista, são melhores que muita gente que eu conheço. Não mereciam tão desonrosa régua, os bichinhos. Me perdoe, Luísa Mell.)
Porque agora que o Carnaval não veio, e que a economia patina, Covid-19 segue matando milhares ao dia, e que o discurso que faz parte de um imaginário concurso de empreendedor-mor, estão todos caladinhos, pianinhos.
O cachorro chegou na roda do carro e agora retorno com cara de besta para o ponto de partida. Não vai demorar e vão inventar outro carro pra latir.
Porque o importante não é fazer sentido, mas sim vender mentiras apelando a um sentimento generalizado de frustração profissional.
Agora viram o mundo-sem-folia da utopia.
Pois me digam: que merda, né? Eu avisei.
Crônica para a Papo de Galo_ revista #11, de 12 de fevereiro de 2021, páginas 24 a 26.
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