À derrota dupla do Palmeiras no Mundial de Clubes, vencido pelo franco favorito Bayern de Munique do técnico Hansi Flick, para além da renovação das piadas de rivais que são vistos pelo alviverde pelo retrovisor, cabe um alerta ao futebol brasileiro. Não tem necessariamente a ver com eventual safra de jogadores, porque o Brasil continua a gerar pé-de-obra qualificado – embora apenas Neymar faça parta da primeira prateleira de astros mundiais do futebol.
O alerta vem do banco de reservas.
Em 2019, o Flamengo, apesar do elenco mais caro do país, tinha dificuldades para encontrar entrosamento sob o comando de Abel Braga. Importou, então, o técnico português Jorge Jesus.
No mesmo, o Santos abriu os cofres para contratar o argentino Jorge Sampaoli. Campeão da Copa América pelo Chile em 2015, Sampaoli chegava contestado depois de uma Copa do Mundo decepcionante à frente de sua seleção natal.
Em 2020, o Palmeiras, apesar de ter um dos elencos mais caros do país, tinha dificuldades para encontrar entrosamento sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. Importou, então, o técnico português Abel Ferreira.
Enquanto isso, no começo de 2021, depois de 1 ano e 7 meses à frente do São Paulo, Fernando Diniz, tido como exemplo de renovação nas pranchetas brasucas, foi demitido do tricolor depois de acumular eliminações e ter perdido a gestão sobre o elenco depois de bronca desmedida e desrespeitosa contra Tchê Tchê.
O Brasil, à exceção de Tite, técnico da seleção brasileira que nunca treinou grande equipe mundial fora do Brasil, não tem um treinador sequer entre os maiores. Os argentinos, por outro lado, dominaram. Na última Copa, eram cinco os treinadores, dentre os 32 participantes, nascidos em terras hermanas.
Jorge Jesus, Abel e Sampaoli – em que pese fracassos de nomes como Jesualdo Ferreira no Santos, que melhorou depois da chegada de Ciuca, e Ricardo Sá Pìnto, que afundou ainda mais o Vasco, que no desespero chamou Luxemburgo para resgatar a equipe da briga pelo rebaixamento – têm uma característica em comum: são treinadores da terceira prateleira na Europa. Domenec Torrent sequer treinador principal fora quando o Flamengo o retirou da comissão de Guardiola.
Mesmo assim, foram capazes de chegar ao Brasil e alterar substancialmente o futebol praticado por suas equipes.
Jesus está de volta ao Benfica, e os resultados não são nada bons, sendo rejeitado pela torcida que já o teve como ídolo. Bastou um rápido choque de realidade para que voltasse à mediocridade num meio muito mais competitivo que o daqui.
Os times brasileiros se sobressaem na América do Sul por uma razão: o dinheiro no Brasil vale mais, podendo, assim, capitalizar equipes nacionais a montarem elencos melhores.
Mas o banco de reservas segue carente de cérebro.
Endeusa-se um técnico novato que não é capaz de conseguir nada além de um vice campeo-nato paulista. Recorre-se a velhos medalhões com currículo vasto, mas que vivem no passado. E os mais novos bebem na fonte de um curso de formação que, ao contrário do equivalente argentino, não se equipara aos padrões mais altos da UEFA.
Não há sequer horizonte de melhora. Seguimos presos à arrogância de um país pentacampeão, mas que assiste aos outros se afastarem com a empáfia de quem crê que o jeitinho brasileiro poderá superar tudo. Haja esperança.
Crônica para a Papo de Galo_ revista #11, de 12 de fevereiro de 2021, páginas 59 a 61.
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