Vez ou outra um clube de futebol surge para instaurar uma dinastia no futebol local. Alguns expandem fronteiras e se elevam a regiões e fronteiras dalém-quintal. O Brasil, claro, não é exceção.
O primeiro grande supertime, destes tidos como imbatível, foi o Santos de Pelé no fim da década de 1950 e começo da década de 1960. Foram inúmeros títulos brasileiros, 5 Taças Brasil em sequência, 2 Libertadores e Mundiais, excur-sões mundo afora. Todos queria ver o Santos.
Na segunda metade dos anos 1970, o grande time brasileiro a ser batido era o Internacional. Foram 3 títulos nacionais em 5 anos, embora a conquista da América tenha batido na trave.
Quem assumiu o posto deixado pelo Inter fioi o Flamengo de Zico. Nos anos 1980, dominaram o futebol nacional com exibições de gala, e muitos títulos, incluindo 4 brasileiros, 1 Liberta-dores e Mundial.
O São Paulo de Telê virou frente do pelotão na virada para os anos 90. Posto reassumido pelo Palmeiras galáctico, mas que nunca alçou voos além do Nacional. No fim dos anos 90, o Corinthians era o grande time brasileiro, culmi-nando num Mundial contestado, mas válido.
Nos anos 2000, o São Paulo voltou a ser o co-mandante, com um tricampeonato seguido do Brasileirão, autointitulando-se Soberano – mas sofrendo, como outros antes dele – com a limi-tação do alcance.
Alternaram-se depois o Cruzeiro de Marcelo Oliveira, Ricardo Goulart e Everton Ribeiro, o Corinhians de Tite, o Palmeiras da Leila. Agora, surge como ponto de máximo o Flamengo.
Algo, porém, separa o Flamengo de agora com outros times, principalmente dos anos 2010: a colossal distância financeira entre o rubro-negro carioca e o resto do pelotão. E esta robustez – aliada a uma gestão financeira consciente – indica domínio prolongado.
Sem dúvidas, o elenco carioca é o mais comple-to e qualificado do Brasil. Nem o Palmeiras campeão da Libertadores e Paulista, finalista da Copa do Brasil – inicia a final contra o Grêmio neste domingo, dia 28 de fevereiro – se assemelha. Além disso, o Palmeiras, apesar de rico, faz-se crescer pelos cofres polpudos de Leila Pereira, dona da Crefisa e da FAM, que patrocinam o Palmeiras com recursos a perder de vista. Mas não são próprios. Acabado o mecenato, o que será do Palmeiras?
A estabilidade financeira do Flamengo o coloca vários corpos à frente do resto. Em 2019, beirou a marca de 1 bilhão de reais em fatura-mento. Se em 2020 os resultados não vieram na mesma proporção, o resultado do Brasileirão mostra a disparidade de um time que se dá ao luxo de ter Pedro, artilheiro nato, como reserva de Gabi.
Tão à frente, o Flamengo se dá ao direito de errar. E se em competições de mata-mata, osci-lações significam eliminações, em pontos corri-dos, só uma improbabilidade de eventos tira um título do Flamengo. Para isso, o Flamengo tem que errar muito, e os adversários têm que apro-veitar ao máximo a oportunidade.
Primeiro o São Paulo de Fernando Diniz e Daniel Alves quis o posto. Mas a incapacidade de gestão de grupo do treinador dinamitou a equipe, especialmente após o jogo contra o Bragantino, derrota por 4 a 2 com direito a humilhação pública de Tchê Tchê por parte do técnico.
Depois o Inter de Abel Braga assumiu a ponta. Errático no começo, o time encaixou e emendou sequência notável de vitórias. Mas começou a faltar gás no fim do campeonato. Em que se pese a dubiedade do VAR, principalmente no pênalti desmarcado no jogo da última rodada contra o Corinthians, o Inter se acovardou numa decisão em que a vitória era imperativa.
Enquanto isso, o Flamengo ia ao Morumbi enfrentar o São Paulo, time em que Rogério Ceni, técnico do Flamengo, é ídolo e que nunca venceu na carreira de treinador. Continuou sem vencer. A derrota por 2 a 1 abria o caminho para o Inter comemorar seu primeiro título do campeonato Brasileiro em 41 anos. Mas parou na trave, em Cássio, nos gols perdidos e num VAR polêmico. O Flamengo deu a deixa. Mas não houve quem pudesse suplantá-lo.
E é isso que projeta um futuro dominante do Flamengo. Só que futebol tem variáveis demais envolvidas. Um grupo vencedor agora pode se tornar um problema depois. A fonte de títulos pode secar, claro. Em algum momento, e assim é a história, será substituído por outro clube. Mas ao que parece, a era de domínio rubro-negro está apenas começando.
Artigo publicado na Papo de Galo_ revista #12, de 26 de fevereiro de 2021, páginas 53 a 55.
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