O burburinho entre os amigos do Libério foi, aos poucos, aumentando. Todos se questionavam o que estava acontecendo com o colega. Era ele encontrar o pessoal, que piscava o seu olho direito e balançava a cabeça para o mesmo lado.
Começou de leve, quase imperceptível. Quem notou primeiro foi o Josenilton, melhor amigo. Estavam num bar, conversando amenidades, quando, não mais que de repente, percebeu o colega de mesa com o tique. Pensou ter visto coisa, afinal, o amigo nem sequer saiu do rumo do que dizia.
O efeito foi crescendo ao longo do tempo. Variava da esquerda para a direita. E agora as mãos também rumavam para o mesmo lado.
Todos estavam preocupados, e tentavam entender o que estava acontecendo.
– Isso aí é coisa da separação dele com a Lucineide. Traumatizou o garoto.
– Já eu acho que ele pode estar doente, sabe? Vai que ele cai duro de infarto aqui na nossa frente?
– Qual o quê! Isso aí é psicológico!
– Concordo. Ouvi dizer que fez 1 ano da morte da mãe dele tem pouco tempo. Ele tem que colocar isso pra fora!
– Tá doido, homem? Eu jantei com ele e com a mãe dele essa semana!
– Então foi a avó.
– Ninguém morreu. Será que não foi consequência da batida de carro?
– Mas foi só um amassadinho na porta! Não pode ser isso.
– A gente nunca sabe o que faz o outro pegar trauma…
– E se ele tiver sido recrutado para uma missão secreta, e o segredo que não pode contar para ninguém estiver consumindo sua mente?
Marino era chegado numa teoria da conspiração. Naquele momento, no entanto, qualquer hipótese parecia ser válida.
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Desde que tinha terminado com a Lucineide, Libério vivia triste. Era a namoradinha da escola, estavam juntos desde os 15 anos. Fizeram tudo pela primeira vez juntos. E agora, beirando os 35, já tendo convivido muito mais tempo com ela que sem ela, esquecera de como as coisas funcionavam.
Eram unha e carne. Viviam juntos pra cima e pra baixo. Mas, sabe como é, o amor acabou, ela logo arrumou um outro para repor, e assim, sem mais nem menos, foi-se embora da vida de Libério.
Josenilton foi o grande alicerce de sua recuperação. Amigo verdadeiro, apoio inabalável para todas as horas. Insistia com o amigo para ele sair mais com a turma, pra conhecer mais gente, pra paquerar um pouco.
Relutou o máximo que pôde, mas a resiliência do amigo era comovente.
Enfim, cedeu. Saíram apenas os dois, uma cervejinha despretensiosa num barzinho qualquer. Aos poucos começou a olhar em volta. Devagar, foi nutrindo o interesse por rabos de saia que faziam seu tipo.
Certa feita, umas cervejinhas a mais, decidiu que era hora de tomar coragem. Inexperiente que era, no entanto, não fazia ideia de como proceder. Envergonhado, veja bem, 35 anos e nem sabia como conversar com uma mulher desconhecida sabia, temia pedir ajuda para o confidente e virar motivo de chacota.
Ainda assim, queria ser discreto. Algo específico para o Josenilton. Ele entenderia.
Ao perceber uma mulher bonita passando à sua direita, piscou o olho para o amigo e apontou com a cabeça para a sua direita, como que a dizer “e ela, o que acha? Estou pronto!”
No não se fazer compreendido, tentou de novo. E outras vezes. Foi aumentando a intensidade dos sinais, e ficando cada vez mais fulo da vida pela incompreensão. Até apontar com a mão agora ele fazia!
E pensava:
– É… Veja como são as coisas. Josenilton ficava me incentivando para conhecer outras pessoas, mas agora que estou pronto, ele finge que não entende. Deve ser porque ele queria que eu sempre fosse o coitado para ele ser o herói. Deve ser uma mensagem de seu inconsciente para que eu evite a vida de solteiro pegador. No fundo, ele deve odiar sua própria vida.
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E nessa de psicologicamente abalado versus inconscientemente insatisfeito, se encontraram outras tantas vezes.
– Como você está, Josenilton? De verdade, cara. Pode se abrir comigo.
Ele nada entendia. Já comentava tudo de sua vida com o amigo, sempre sincero.
– Eu quero é saber de você, Libério. E a Lucineide, já esqueceu de vez?
E para mostrar que já se livrara do trauma da ex, apontava para uma distinta senhorita que passava do lado deles na hora.
– Se ele não entender agora, desisto.
– É a Lucineide. Certeza.
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