Os dois mandatos de Lula e o primeiro mandato de Dilma foram um tapa na cara dos românticos em política. Quase 70% do Congresso aninhava-se sob a efígie da base aliada, cantinho quente e aconchegante, com a tranquilidade daqueles que comandam a circulação de dinheiro, por dentro, por fora, por onde fosse. Também, claro, com a ajuda de uma mesada mensal que coloca comida na mesa e ajuda no leitinho das crianças. Sabe como é.
O comportamento do Congresso é sabido há anos. Dinheiro na mão, calcinha no chão, vendem-se pelos trocados do tamanho de sua relevância. Um Renan, um Jucá, um Cunha, estes custam caro demais, por exemplo. Um Cavalcanti, por outro lado, no troco do restaurante já se sacia o apetite.
No que o PT soube surfar na onda da compra de votos, mestrado que fez com o Bolsa Família, o que vale nessa vida é coerência. Ou não. Porque o partido abandonou suas raízes e deu as mãos a opositores, adversários, e quem mais garantisse sua maioria. O que valia era permanecer no poder. Assumiam, agora escancaradamente, a tese da governabilidade, aquela de que para estar no poder é preciso compor com o Legislativo. FHC fez o mesmo, Collor deu de ombros e foi defenestrado, assim como também foi Dilma quando a junção entre sua inabilidade política e uma tempestade perfeita a expulsaram do Planalto.
Estes anos de 2015 e 2016, a continuar em 2017, comprovaram a custo de crise e muito prejuízo ao erário público, que, sim, é necessário criar um governo de coalizão. Juntando tudo quanto é urubu. O cuidado a ser tomado é o de ter carcaça pra todo e mantê-los alimentados. Porque senão, veja só, não apenas não se governa como lhe passam uma lépida rasteira pra tu cair de boca na sarjeta.
Ah!, há também o cuidado de se estabelecer o macho-alfa, pra mostrar quem manda na porra toda. Papel que coube bem a Lula e a FHC, que foi negado no nascimento a Dilma, e que Temer vai percebendo que não é muito a sua praia.
Os românticos ficam doidos: Não pode! Não comprometamos nossa história!
Quer coerência? Ramo errado, meu amigo, minha amiga. Ou então, que tal assim? Mantenha sua coerência e, em contrapartida, não chegará ao poder.
Neste momento, escândalos continuam inundando de assalto os noticiários, sempre os mesmos caciques envolvidos. Mesmo assim, vai ser muito difícil de Temer cair, mesmo com tanta sujeira grudada em seu terno e nos dos seus. Por quê? Porque qualquer ação de mudança DEPENDE do Congresso. E não venha com STF, porque o Renan já provou que pisa em cima e ainda faz o Supremo pedir penico.
A pergunta-chave passa a ser, portanto: como se livrar dos corruptos do Congresso, se é necessário o próprio Congresso para tal?
O enfraquecimento de Temer provocará uma reorganização de forças dentro do Congresso. Infelizmente, não será suficiente para que se desbanque a atual. Uma aliança, para subir ao trono num mundo fragmentado, precisa, apenas, ser maior dos que as outras. O trono parece estar aberto, mas urubu é bicho que não entende muito esse negócio de andar em bando quando a carcaça em questão é a moribunda cadeira de Presidente da República.
A discussao contemporanea sobre o novo Estado tem se voltado para os requisitos politicos, societais, organizacionais e gerenciais que o tornem eficaz e eficiente, capaz de enfrentar os desafios que se impoem e os dilemas que se apresentam. Este artigo, embora nao pretenda proceder a uma revisao da literatura sobre os conceitos de governabilidade e governanca, fara algumas consideracoes sobre o tratamento desses conceitos, sugerindo, para propositos analiticos, o termo” capacidade governativa”.