O trem que corta a Marginal Pinheiros da cidade de São Paulo, ligando Osasco ao sul da Capital, é confortável. Tem ar-condicionado, que assume um cheiro assaz desagradável nos horários de pico, uma musiquinha ambiente, até umas TVs espalhadas, cheias de propaganda e informações ditas úteis para o usuário. É rápido, funciona bem.
Ali, pessoas perdem o pudor e fazem do vagão a sala de sua casa. Segredos e mentiras e lamentos e vantagens são contados ao companheiro de viagem e a mais quem ouvidos tiver, vez ou outra interrompidos por um vendedor de chocolate, pen drive ou fones de ouvido.
Nessa onda seguia que duas senhoras, meio da tarde de um de semana qualquer, ali rondando seus 50 anos – marcas de trabalho pesado envelhecem demais a gente – conversavam platitudes, tais quais outras tantas conversas se espalhavam, amiúde. Profundidade de diálogos no trem é querer demais, faça-me o favor.
– Amiga, qual o certo: pobrema ou poblema?
Neste cenário, era de se supor que a amiga era a sábia da dupla.
– Aí depende.
– Do quê?
– Se é saúde, é pobrema. O resto é poblema.
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