O dia 27 amanheceu travestido de sexta-feira. Todos leves, de sorriso em riste. Um feriado improvisado em pleno meio da semana. Era, pois, pois, dia de Brasil em campo pela Copa do Mundo. Alegria de tantos, menos dos startupeiros e mal-humorados de plantão que saem por aí a fiscalizar o joie de vivre de quem quer apenas motivo para ser feliz. E aos que se vestiram de verde a amarelo, o dia foi completo. Barba, cabelo e bigode, e se for interesse da freguesia, depila outras partes também.
Começou com a Alemanha, a mensageira de traumas passados, a temida, a destemida, mistura de bicho-papão com o boi da cara preta. Só que monstros do armário não existem, são invenções de nossa cabeça. No que os verdes germânicos relembraram a estreia. Com futebol claudicante, não pressionavam a frágil Coreia do Sul de maneira a levar perigo. Mas quando os orientais iam pra cima… Era um sassarico louco, não que de rebolado entendam os asiáticos, mas as duras cinturas europeias não eram capazes de conter.
Do lado de lá, a Suécia batia o sempre surpreendente México, seja positiva ou negativamente. Se os primeiros dois jogos foram exemplares pelo selecionado da terra de Zapata, neste último, enganados pela certeza injustificada da vaga garantida, o oposto se fez. No que os suecos se aproveitaram e fizeram a festa. Um, dois e um terceiro que entrará nos livros como um dos mais bizarros gols contra de todas as Copas.
Os mexicanos dependiam da Coreia segurar a pressão alemã. A ofensiva dos comandados pelo desmelecado Löw era enfadonha. É fundamental abrir um parêntese para o caso do técnico germânico. Claramente fora de foco, lutava bravamente contra um desejo incontrolável de remover aquela catota que desde a estreia lhe incomodava as narinas. Não estavam os alemães no máximo de suas forças. A Coreia percebeu a distração e num movimento passe invertido de Kroos, abriu o placar. Depois, com Neuer fazendo as vezes de meia esquerda, uma estilingada do campo de defesa culminou no gol de Son.
A portentosa Alemanha, atual campeã, caía na fase de grupos da Copa do Mundo pela primeira vez em sua história. Que mancha! Adeus comemorado no Brasil como uma espécie de vingança por aquela semifinal de quatro anos antes. (Bate na madeira!) Faltava confirmar a seleção canarinho sua vaga à próxima fase.
Com Miranda envolto em sua faixa de capitão, a expectativa era de não sofrer. Questionava-se se a zaga brasileira seria capaz de conter os gigantes sérvios nas bolas aéreas. E eles levaram perigo. Uma ou outra vez, não mais que pouco. Para que o desafogo viesse dos pés de Philippe Coutinho, sempre ele, em elevação aos pés de Paulinho – seja bem-vindo à Copa, Paulinho! – em cobertura para as redes. A tranquilidade haveria de baixar.
Baixou também o ritmo de jogo. Que sonolento ficou, devagar, quase parando, tal qual Willian. Até que deu-se a inversão total do que os embasados analistas (desculpem-me o erro grave de concordância) aludiam. Foi de cabeça, no meio dos altos sérvios, que Thiago Silva escorou o segundo do Brasil. Sem choro nem vela, estava sacramentado: Brasil em primeiro, sem arranhões.
Na próxima segunda-feira, no profético horário das onze horas da manhã, Brasil e México lutarão por vaga nas quartas. Feriadão de hoje a tanto, fim de semana mais que prolongado. Viveremos manhã sem labuta, expediente só depois das 15 horas, e mesmo assim com as protocolares duas horas de resenha garantidas na CLT. Enquanto isso, na Bahia, esta terra de gente que entende de feriado como ninguém, se adianta desde já e há muito e faz bater o feriado de calendário com o facultativo, juntando a fome com a vontade de comer (água). Nesta seara de overdose de futebol, o fim-de-semana começou hoje e termina lá, com as quartas-de-final no prato. Estatisticamente falando, adversário melhor que o México não há, eliminado nas oitavas em todas as Copas desde 1994.
Passaremos este ínterim com a alma lavada e enxaguada. Pois chorando se foi quem um dia só nos fez chorar. Aqui se faz, aqui se paga. Vencemos sem sustos e avançamos, apesar de Willian, apesar de um sumido Neymar, apesar de um inoperante Gabriel Jesus. Para cada um do lado de cá da tela, que acompanha e torce, resta jogar na conta da mística da amarelinha, da organização tática de Tite, de um Coutinho salvador. Cravar que foi a cueca da sorte, o patuá de corpo fechado, o amuleto que nunca falha, exceto quando não dá certo. Joga e vai. Porque está tendo Copa demais e o Brasil segue vivo e forte. Com a Alemanha eliminada. Agora, se vira Argentina, que sua hora há de chegar. Hoje eu quero é me esbaldar!
Crônica publicada no site do Correio da Bahia em 27 de junho de 2018. Link AQUI!