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Almoço caro pro governo

Almoço caro pro governo

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Como alguns sabem, acompanho o bolo doido de Brasília daqui, da Cidade Maravilhosa (sim, eu sei, o Rio anda meio caído, mas este título ainda é nosso, lidem com isso). Mas fato é que há uma distância considerável entre o Pão de Açúcar e o Cerrado, ao menos na quilometragem, só que isso não nos impede de acompanhar o desenrolar dos acontecimentos – leia-se, por acontecimentos, a tour que levou ao apogeu de Arthur Lira (PP-AL) e à queda de Rodrigo Maia (DEM-RJ). E eu estou, desde o começo das tratativas e discussões, achando que sim, esta dita vitória governista pode ser, na realidade, uma vitória de Pirro. Ou, como dizemos aqui nas terras cariocas, ganhou mas não levou.

Arthur Lira é do PP, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, que militou na legenda por mais de 20 anos. Em que pese ter sido o partido mais citado nas investigações da Lava Jato, segue incólume em seu papel de base, agora consolidado com a presidência da Mesa Diretora. E o PP, assim como a grande maioria dos partidos do dito Centrão, não é conhecido por ser celeiro de grandes legisladores, ao contrário. Nestes partidos, os filiados adotam a política do “estilo síndico”: te dou obras, você me dá votos.

Beleza, é do jogo, faz parte e não é algo, per se, errado ou nocivo. É uma forma de fazer política, faz parte da rotina legislativa. Mas ela cobra um preço, não é de graça que se apoia o que o Governo quer. E digo mais: nem sempre ela funciona diante do eleitor.

Veja bem, longe de mim fazer aqui a argumentação rasa que se faz tantas vezes na imprensa, quando se fala que A ou B comprou o Centrão pelos votos e tal. Sabemos que estamos falando de emendas orçamentárias, obras, melhorias, não necessariamente “dinheiro no bolso” do doutor. Mas a realidade é que, sim, pra rir tem que fazer rir. Não estamos falando de uma massa ideológica, aliás esta tem se tornado cada dia menor no Congresso. Logo, se é pra esperar apoio, que se saiba que é preciso este retorno.

Aí nesta semana Arthur Lira concretizou a votação da independência – relativa – do Banco Central, pauta mais do que discutida nos últimos 30 anos e um sonho antigo do mercado financeiro. Assunto caro ao coração do ministro Paulo Guedes, liberalzinho que só. A coisa estava parada há tanto tempo que é até injusto dizer que um trem que tramita desde o tempo em que o ex-presidente Itamar Franco era senador não prosperou por pirraça do Rodrigo Maia, portanto nem dá pra dizer que foi uma grande vitória do Governo, porque não foi. O resultado foi muito mais pra acalmar o mercado do que pra apaziguar Bolsonaro, que, ao que parece, já começou a perceber que o buraco pode ser bem mais embaixo do que ele imaginava, agora que os dois presidentes das Casas Legislativas são, teoricamente, aliados.

Ocorre que a primeira queda de braço está a caminho e promete fortes emoções. Está sobre a mesa a questão do Auxílio Emergencial, pauta desgostosa pra Paulo Guedes mas de suma importância para os legisladores. Depois de ser colocada como prioritária tanto pela Câmara quanto pelo Senado, Bolsonaro acenou com a proposta de R$ 200, reclamou que o país iria se endividar… mesmo como muxoxo de sua equipe econômica, sempre bom lembrar. Só que a aprovação desta sugestão não deve vir fácil, em nenhuma das Casas.

Guedes pensa com a cabeça de um teórico liberal que não depende do voto, mas deputados e senadores já estão com a mente em suas eleições no ano que vem, enquanto governadores e deputados estaduais seguem preocupados com a falência geral dos estados. O que os estaduais têm a ver com isso? Tudo, uma vez que o principal tributo desta esfera é o ICMS, justamente o mais atingido pelo poder de compra direto da população.

Sem o auxílio, os já combalidos cofres estaduais sofrerão ainda mais, e lembrem-se, moro no Rio de Janeiro então sei e vejo de perto o perrengue que é manter a máquina minimamente funcionando sem dinheiro em caixa. Estou falando de um estado que
começou o ano já com um déficit orçamentário planejado de R$ 20 bilhões. E não somos mais o único estado da federação de pires na mão, já que o combo pandemia e política econômica bolsonarista causaram uma certa devastação no restante do país – até o tradicional feijão com arroz está 44% mais caro que no ano retrasado, de acordo com a Associação Brasileira dos Supermercados.

O que isso tudo mostra? Que pode não ser desta vez que pautas ideológicas importantes para Bolsonaro – mais fácil acesso a armas, polícias estaduais mais independentes, homeschooling – sejam aprovadas no Legisla-tivo como o passeio no parque desejado pelo presidente. E quanto mais próximo das eleições estas pautas forem votadas, mais difíceis – e caros – serão os votos favoráveis. Por acreditar estar cercado de governistas, Bolsonaro pode achar que não precisa quitar este pré-datado; por acreditarem ser necessários para o governo, os governistas podem acreditar que o pré-datado será mantido. Resta saber de que lado a corda irá arrebentar. Enquanto isso, a galera segue esperando o emprego, o auxílio emergencial, o que quer que seja pra garantir o troco do fim do mês.


Artigo para a Papo de Galo_ revista #11, de 12 de fevereiro de 2021, páginas 51 a 53.


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Capa da Papo de Galo_ revista #11, de 12 de fevereiro de 2021.

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