O primeiro gol anotado pela seleção brasileira numa Copa do Mundo foi de Preguinho, em 1930. Na final da Copa de 58, para espantar de vez o complexo de vira-latas de Nelson Rodrigues, Vavá fez dois, Pelé mais dois, sendo um deles aquele que deveria ser considerado o gol mais bonito de todas as Copas. Na Copa de 62, além de Vavá, Zito voou de cabeça para fechar o placar em 3 a 1 na contenda final contra a Tchecoslováquia.
Os nossos maiores de todos os tempos? Pelé e Garrincha.
Nome composto, por outro lado, era coisa de zagueiro, porque impunha seriedade e respeito. Mauro Ramos, Nilton Santos, Domingos da Guia, Djalma Dias, Ricardo Rocha, tudo nome de dotô, porque na zaga não se brinca, não, senhor! Se tivesse bigode, então, era garantia de defesa menos vazada. Em 70, veja a que ponto chega a altivez de um nome poderoso, um jovem lateral de 25 anos com nome TRIPLO levava a braçadeira de capitão do maior time da história do ludopédio: Carlos Alberto Torres.
Com o tempo, foram minguando os apelidos, suplantados pela seriedade do futebol-negócio, troço sério, de alta monta. Nossos atacantes foram todos ganhando nome e mais nome. Taí uma boa analogia para documentar porque perdemos ao longo do tempo a feição caricata e romântica do futebol malandro e moleque, para o futebol de esquemas táticos, rigidez e compactação. Esse aí que nos faz ignorar Juventus e Américas para saudar Barcelonas e Manchesters.
Algumas épocas foram potencialmente melhores para apelidos. Aliás, não apenas em épocas, mas, especialmente, em times menores nos estaduais. Em retrospecto, com o olhar curioso que a história aguça, só a escalação de cada equipe já valia o ingresso. Não é de se espantar que haja muito mais criatividade nas crônicas futebolísticas de então. Nelson e Nogueiras e Saldanhas lidavam com Caxinguelê, Bagaçada, Americano, Chuvisco e Mituca.
Hoje? É tudo nome composto, um engodo de virar os olhos. Quem é Philippe Coutinho na fila do pão, se nela entrar o Bagaçada? Aposto que o primeiro vai na rede internacional de ingredientes selecionados, bossa-nova-jazz-instrumental em som ambiente, pedindo pão integral sem miolo, sem glúten e com garantias de produtos orgânicos, enquanto o segundo já chega largando uma cachacinha às 07 horas da manhã para acordar de vez, antes de ir bater uma laje e é recepcionado com festa por todos na padaria, que reserva um lugar especial para ele no balcão. Falam até de uma estátua, ideia de um que foi a Cuba e viu a do Hemingway no El Floridita, em Havana. Amigo bom este, entendeu que homenagem no esporte é na base do bronze. Veja até onde vai a influência de Bagaçada, quando Hemingway vira par, mas aposto que o americano nunca bateu um baba no campo da Graça.
Nesta onda, já que ninguém pede com veemência, grito eu meu grito solitário. Porque o moleque é a cara do Brasil. E joga bola que é uma maravilha. Reconheço que seu nome tem algo a ver com isso; tenho um quê saudosista, apesar da pouca idade. Agora, valham-me na conversa e no convencimento, face a tudo que levanto, com o dedo em riste em sinal de veemência, suplico: Tite, faz favor, Tchê Tchê no lugar do Renato Augusto.
Não é apenas uma questão de merecimento. Não e nécaras. Se você já veio até aqui, captou que existe mais do isso em jogo. Está valendo a redenção de Carecas, de Violas, de Chulapas, de Bebetos, de Dadás, de Cajus, de Pepes e de mais tantos. É o aparecer do menino da várzea, que muito antes de ter nome, tinha apelido. Vale a luta solitária de um craque que honra o passado travesso de um futebol, que rendeu-se ao mercado, mas que quer apenas jogar futebol.
Salve, Tchê Tchê!
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