“Nunca diga ‘não’ quando estiver bravo, nem ‘sim’ quando estiver eufórico.” Assim diz o ensinamento que se transmite há gerações na minha família. E da mesma maneira que o assimilamos na teoria, na prática a gente desgraça é tudo. É que quando a porca torce o rabo – ou seja, quando nossa mente se aperta – não tem sangue frio nem calculismo que dê jeito.
Este 2018 foi assim, um ano de extremos. De pressão vindo de todas as direções. Ano complicado para ser holofote, para ter opinião, para mexer com a massa. No futebol, o calendário já reservava emoções com a Copa do Mundo e um Brasileirão sabidamente complicado. Mas aí…
Bem, aí, faltou juízo na hora H. Se nas CNTP a mente já é posta à prova, imagine quando o sofrimento é fruto de autopenitência. E pra quem não faz um “O” com um copo em matéria de “hum, o que será que pode vir depois disso?”, o prejuízo foi catastrófico. Acompanhe a seguir a mini-cronologia.
Nem bem fevereiro surgia – era, portanto, o primeiro domingo do ano, pois o Carnaval tinha acabado de passar – ecoou nos quatros cantos em menos de um minuto a injúria do Ba-Vi da vergonha. Ah, as agruras da mente esquálida… Subiram hashtag, dito zagueiro saiu em posição de “boquicéu” com a torcida, os de três cores pesaram em cima de com força até o apagar do ano, com direito a bis em 2019, porque o que era um clássico mais-um virou divisor de águas. Pra lá, vida-que-segue; pra cá, a insignificância.
A insistência com Mancini, o encantador de abestalhados, pode ser colocado nesta lista. Talvez se lutasse para que não se cedesse ao balançar-e-cair de técnicos típicos de terra brasilis, mesmo que o galo do óbvio ululante cantasse pra ele ir se arrumar em outro terreiro.
O feito, claro, não é exclusividade de terras baianas. Veja o que decidiu Lopetegui, técnico da seleção espanhola. Revelou ter contrato com o gigante Real Madrid e foi demitido da seleção em solo russo, para menos de 3 meses depois ser demitido do próprio time madrilenho. O tilintar dos cifrões num contrato também nos cegam. Eufórico, disse sim.
Ou que tal o caso de Tite, que insistiu com Willian mesmo contra todos os arranjos de que o negócio não ia dar certo? Foi ele aparecer na TV falando que seu ponta era o “foguetinho” e, pronto, ali estava sacramentado o destino da seleção canarinho. No apelido carinhoso do chefe fazia renascer cenário similar ao que fora Felipão e Bernard, o alegria nas pernas, de 2014. Ah, os sinais…
Ao fim deste montanha-rússico ano de 2018, a parte campeã da Bahia aproveita para espezinhar a outra parte, nada campeã e rebaixada. Veem os dois do Ceará pedir passagem, com dois representantes na Série A, algo que desde nunca acontecia. Para os tradicionalistas, pelo menos não é Pernambuco, rival de tradições regionais. Me reto: e isso lá é consolo? Aonde?
Que se aproveite a pausa da bola rolando para colocar a cabeça no travesseiro e se vislumbre um 2019 mais festivo para o ludopédio baiano como um todo. Só que, no meio dos desejos de “agora vai”, há uma barreira especialista em apertar mentes: a incompetência. Rezemos, pois, pela sorte. Mas, sorte por sorte, prefiro a Mega da Virada, que pelo menos o meu, eu garanto. Sabe como é, farinha pouca, meu pirão primeiro.
* Gabriel Galo é escritor.
Artigo publicado em 24 de dezembro de 2018 na página 2 e no site do Correio da Bahia. Link AQUI!
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