Cheguei ao Rio depois de uma viagem não muito cansativa, curtinha que nem se fez notar. No táxi, por favor pela Zona Sul. Cruzar do Santos Dumont para a Barra atravessando a Linha Amarela é desses pecados que deveriam ser pagos com dias exuberantes de sol com você preso num escritório sem ar-condicionado, usando, obrigatoriamente, terno e gravata. Pensando bem, sofri deste castigo, inclemente é o Rio a oferecer esta punição dia sim e outro também. No verão, então, o inferno faz dali sua filial, independentemente da óptica utilizada. Pode escolher.
Cruzar da Zonal Sul para a Barra é como se pudesse atravessar Paris para chegar a Dubai. Deixa-se a história e a beleza para chegar ao mundo de artificialidades e banalidades. Guardadas as devidas proporções, claro. A Barra nunca será sequer Dubai, nem se fizer uma miniatura do Burj Khalifa em frente a um Shopping Center.
Acomodo-me.
Mais tarde, encontro um conhecido, que me sai a apresentar à turma, com a efusividade característica do carioca. “Aí, esse aqui é o Galo, parceiraço.” Virei parceiro assim, sem nem me esforçar, a não ser algumas mensagens trocadas por e-mail depois de um amigo em comum ter arranjado o contato. Ou seja: eu via o parceiraço pela primeira vez na vida. Já é.
Vai rodando e vejo aqueles olhos, que me enfeitiçaram ali mesmo.
Ora, convenhamos, não a conhecia, que poderia eu dizer de seus atributos intelectuais? Então pulemos estas indagações sem sentido, até porque, verá você, a conotação aqui bordeará a contemplação, nada possui de sedução, embora entenda que esse tal jeito de mirar é porta aberta para a conquista, a depender da candura admitida.
Homem que não fica sem palavras, fiquei. Talvez por mais tempo do que deveria, será que notaram? Eram grandes olhos castanhos, cílios naturalmente proporcionais. Um olhar que dizia muita coisa, pelo menos é o que minha mente formulava, e ela cria cada história que o horário não permite…
O danado é que ela retribuía. Agora, não pense você que era algo relacionado a conquista, não meu senhor, não minha senhora. Talvez estivesse genuinamente curiosa com o que se passava comigo. Provavelmente minhas feições estavam um tanto disformes.
Toda a luz se apagara, todos se ausentaram, e toda fiapo de luminosidade existente focava naqueles olhos. Assim, por uns segundos, me entreguei a satisfazer minha contemplação, a observar o que era divinamente belo. A cada desvio meu, seu olhar me puxava de volta para si. Era muito mais forte do que eu, e confesso que meu autocontrole em contato com o que belo não é lá essas coisas. Quando divinamente, então, pareço um cachorro atraído pelo forno de frangos assados que fica girando e girando e, mais racional que sou, não babar já me parece tarefa suficientemente complexa.
Queria poder dizer a ela que ela tinha os olhos mais lindos que tinha visto na minha vida. Mas como fazer isso sem fazer parecer um flerte banal, afinal?
Particularidades são atrativos deliciosos. Assim como senso comum é uma barreira complicada de se ultrapassar.