A campanha do candidato do PSDB à Presidência da República tinha criado seu alvo principal: Jair Bolsonaro. E fazia sentido do ponto de vista lógico e estratégico. Sem carisma e fraco de imagem, Geraldo Alckmin precisava de contundência para abalar a base do candidato nascido na cidade de Glicério, interior de São Paulo, fortalecer a sua própria e colocar-se, consequentemente, como alternativa ao voto de protesto. Afinal, Bolsonaro abocanhou fatia do eleitorado do paulista para dentro de sua perigosa aleivosia.
O que se viu, no entanto, foi uma constante dificuldade de crescimento. Em um cenário de nervos à flor da pele, as águas pretensamente calmas do centrão pernóstico e pornográfico não atrai nem empolga. Nem mesmo o bombardeio de tempo de TV é capaz de alavancar Alckmin.
Quando na quinta-feira pré-feriado de Independência a faca de Adélio feriu gravemente Bolsonaro, a dor maior se fez no comitê pessedebista. A partir dali – salvo narrativa esdruxulamente nova surja, um plot twist surreal, e como duvidar da surrealidade destas eleições 2018? – estava sacramentada a morte de Alckmin.
O atentado a Bolsonaro transformou-o de um bufão vazio a efetivamente vítima. Blinda sua figura. Em concordância com seu desejo, se já queria ficar às margens da campanha, fugindo de entrevistas e debates, agora tem licença médica para tanto.
Neste cenário, os ataques de Alckmin assumem um perfil de desonestidade que inviabiliza toda sua estratégia. Não mais ataca um propagador de ódio, mentiras e ideias infantis. Agora, ataca uma vítima de crime de ódio. E esta alteração semântica faz toda diferença.
As últimas pesquisas afirmam que Bolsonaro tem base cativa, impenetrável, imutável. Cerca de 77% de seus votantes estão com ele e não abrem.
Resta a Geraldo Alckmin brigar, agora, por um eleitorado compartilhado por Marina, Ciro e Haddad. Aqueles para quem manter o ex-capitão como alvo em nada se altera (talvez com mais comedimento). Seus militantes são outros. Para os mais à esquerda, a campanha contra Bolsonaro é questão de posicionamento. Para Alckmin, também era por transferência de votos. Que se pouca chance tinha de haver, não mais haverá.
O plano de Alckmin era ficar quieto, deixar todo mundo se matar (com imprevisível acerto literal à metáfora inicial) e sair vivo do outro lado, com poucos arranhões. Seu jogar seguro, entretanto, se provou absolutamente equivocado. Será esta mais uma eleição com erros estratégicos incompreensíveis do ultrapassado e retrógrado tucanato. E faz com que, a 4 semanas do voto, ele se torne tão coadjuvante quanto Alvaro Dias, Meirelles e do experimento Amoedo. Não por acaso, candidatos da mesma grife, origem, jeito e postura. A mensagem está mais do que evidente. E não souberam, uma vez mais, ler e interpretar.
Por fim, não há mais tempo hábil para se formular um novo sentido à sua empreitada. A facada foi em Bolsonaro – e nunca haverá repúdio suficiente ao ato, por mais oposto que se esteja de seu espectro Idade Média -, mas quem morreu foi Geraldo Alckmin. Prematuramente. E não foi por falta de aviso.