Em verdade vos digo: é uma ocasião histórica um Ba-Vi numa data como o 2 de Julho.
O dia 2 de Julho do ano de 1823 que representou a final expulsão dos portugueses do Brasil, que depois de serem escorraçados do Rio de Janeiro, encontraram último abrigo na velha capital da colônia. Chegou Maria Quitéria, nossa Joana D’Arc sem filme em Hollywood nem livro de odes, sentando dedo e a espada na fuça e no peito de malandro gajo, “dê cá que essa porra é minha, pai véi!” Foram-se os lusos como deu e como pôde, rabos entre as pernas, lágrima única escorrendo do olho direito. “Acabou a farra.”
Já éramos independentes de Portugal administrativamente falando, mas, sabe como é, na Bahia as coisas demoram um pouco mais para acontecer.
No que neste Domingo o que está em jogo é a redenção, a tentativa de libertação do destino de se oscilar de A para a B. Os anseios de recuperação da grandiosidade parecem ser sempre talhados pela machadinha cruel da realidade desenxabida, mesmo com títulos de soslaio.
Efeito sanfona terrível que maltrata os juízos de quem canta e vibra.
Vibração de muletas, já que assistiremos sem resposta tricolorida aos cantos de arquibancada da torcida única no Barradão.
Como se faz um Ba-Vi sem o grito de “Baêa?”
Como se faz um Ba-Vi sem o grito de “Negô?”
Com a caneta sem alma dos legisladores pressionada pela sede de violência das torcidas (crime) organizadas e a recomendação do MP e da PM, que em vez de procurarem solucionar a questão, preferem varrer problemas para debaixo do tapete, exclui-se um dos elementos, quebrando a fórmula e sem o qual não se respira.
Afinal, o que seria do Bahia sem o Vitória e vice-versa?
O poder que emana da caneta encontra eco nas diretorias mais para portugueses que para quiterianos, que aceitam os desmandos das autoridades, impávidos, imóveis, calados, passivos. Não percebem o gigantismo da oportunidade perdida.
Quem chega para romper o estabelecido, fazendo algazarra e comendo água antes do apito inicial é justamente aquele que detém o real poder, que emana pulsante, vibrante: o povo.
Canta o hino: Nunca mais o despotismo!
Devolvam o clássico aos baianos, sinhôzinhos!
Reestabeleçam-se e ressuscitem-se os vendedores de amendoins e pipocas, as baianas de acarajé, Zé Bin, Chico Queiroz, o foguetório, a chuva de papel picado, a torcida mista, o sorvete de cajá com umbu, Binha de São Caetano e Rosicleide.
Faça-se e viva-se o folclore do Ba-Vi!
No devaneio, num Ba-Vi no 2 de Julho o palco ideal seria o da velha Fonte. Os jogadores subiriam as escadas dos vestiários do Dique para serem recebidos com foguetório e estrondos, triunfais, como eram os gladiadores içados na arena de antanho. Repórteres correriam aos seus lados tentando uma palavrinha antes do jogo, calados pelos estouros e pela saudação à massa.
Um jogador pararia, mãos na cadeira, embasbacado com a festa que se vê nos anéis da Fonte, assistindo a quem pagou para ir assistir. Neste caso, quem é o espetáculo?
As equipes seriam lideradas por Maria Quitéria, entregando-lhes brio e brilho nos olhos, para que num 5 a 5 monumental e eterno possam finalmente se estabelecer como grandes que são, implodindo o velho agora transformado em novo com traços e resgate da história que os levou até ali, espantando de vez o fantasma do Z4 com o esplendor que tanto um quanto outro merecem.
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