No primeiro turno do Brasileirão de 2019, o Bahia fez campanha que o credenciou a brigar por vaga na Libertadores. Estava ao alcance. Em alguns momentos do segundo turno, o clube esteve a uma vitória de chegar à mágica 6º posição, mas escorregou. No fim, terminou em 11º, atrás até mesmo dos equivalentes em orçamento Fortaleza e Goiás.
A evolução, no entanto, é evidente. Finalista em 4 das últimas 6 edições da Copa do Nordeste, atual bicampeão baiano, em busca de um tricampeonato que não vem desde o fim dos anos 1980, boas campanhas na Copa do Brasil e Copa Sul-Americana… A questão é conseguir ultrapassar a barreira e conseguir efetivamente dar o próximo passo.
Em parte da torcida fica um gosto estranho de ver um clube que avança institucionalmente, mas em campo parece não acompanhar o passo. Talvez tenha chegado o momento em que a questão é a definição de teto. Até onde pode o Bahia efetivamente chegar?
Falta, eventualmente, unir a ambição do campo à ambição que a torcida expõe fora dele. Não que se questione o querer de todos os envolvidos, mas há um descompasso aparente entre estes mundos, que torna o inexistente em real, se assim o parece.
E para reverter o placar adverso da primeira partida da final da Copa do Nordeste contra o muito bem armado Ceará de Guto Ferreira, o Bahia vai precisar de uma pimenta extra. Numa decisão, o emocional é preponderante. Às vezes se faz urgente sacudir a hierarquia, não por questionamento do trabalho realizado, mas pelo atendimento à necessidade premente: adaptação é evolução, disse Darwin. Não se trata, afinal, de pontos corridos. Vale taça, posição vantajosa na Copa do Brasil em 2021, premiação e o agrado à torcida, que, corretamente, se recusa a diminuir suas expectativas.
Enquanto isso, no Campeonato Baiano, o interior continua pedindo passagem. O Jacuipense, representante do futebol baiano na Série C deste ano, caiu em pé nas semifinais. Com dois golaços e desabafos no jogo da volta, mostrou brio de quem não se contenta com meias palavras. Quer respeito e o reconhecimento que merece. Vai entrar na disputa nacional almejando algo mais.
Já a eletrizante semifinal entre Juazeirense e Atlético mostrou a que serve efetivamente os estaduais. Não é narrativa dos grandes que acumulam títulos que alimenta a paixão por histórias improváveis. A estes, estadual é obrigação quando ganha, crise quando perde. Aos menores, no entanto, é questão de definição de teto, de quem pode conquistar mais território.
O Atlético do interminável Magno Alves e a Juazeirense protagonizaram emoção extrema, com direito a defesa dupla em pênalti que selou a classificação da equipe de Alagoinhas. A festa pós-jogo mostra quem, afinal, quer mais o caneco. Alagoinhas clama por novo título do interior, que bateu na trave em 2019 com o Bahia de Feira. No fim das contas, contudo, o troféu não chega necessariamente de acordo com o desejo latente.
Veremos, no derradeiro match, a quem caberá a volta olímpica vazia, com taça erguida para as câmeras de TV. Se a glória pelos pés improváveis do dito azarão ou se a grande força que joga com time de aspirantes por imposição de um calendário esdrúxulo que, numa tacada só, fere tanto estadual quanto regional. Há rara igualdade se aproximando. Ainda bem.
Gabriel Galo é escritor.
Artigo sobre o Bahia, primeiro jogo da final da Copa do Nordeste e expectativa pras finais do campeonato baiano foi publicado no site do Correio em 03 de agosto de 2020. Link AQUI!
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