Foi um dia cheio aquele atravessando o Recôncavo, cortando de ferry boat a Baía de Todos os Santos, cruzando a Ilha de Itaparica de cabo a rabo. Paradas em Mutá, em Pirajuia, em Salinas da Margarida.
Na volta, já escuro ainda na estrada antes de chegar a Bom Despacho, não poderia reviver o pôr-do-sol na chegada a Salvador.
Bom Despacho. Para quem não conhece, é o terminal da travessia entre a Ilha de Itaparica e Salvador. É o ponto que te leva de volta à metrópole.
No carro, eu, minha mulher, meu pai e Angélica, sua esposa, que depois de 7 anos com o meu velho já deveria imaginar o que viria depois da minha pergunta, quando nos aproximávamos do terminal:
– Angélica, você sabe por que este terminal se chama Bom Despacho?
Meu pai, macaco velho deste tipo de artimanha, ficou calado, esperando a resposta dela. Minha mulher, do meu lado, estava curiosa. Tinha sido um dia excelente, o estado de espírito de todos era o melhor possível. Ela, então, honestamente, curiosa, dá corda e morde a isca.
– Não. Por quê?
Neste ponto meu pai já gargalhava por dentro. E devia se perguntar como, até hoje, ela não tinha aprendido.
– Aqui era um importante centro de candomblé da região. Mesmo depois da construção do terminal, continuou sendo muito frequentado. Diziam que era uma área sagrada. Depois, no começo da operação do ferry boat, a população, ainda desconfiada da segurança dos barcos, vinha fazer seus trabalhos a garantir a boa viagem aos que se aventuravam na travessia.
– Sério? Respondeu ela, um tanto surpresa e maravilhada com a história.
Eu, então, respondi.
– Não.
Gargalhada geral. Angélica inclusive, apesar de envergonhada. Ainda por cima sob olhares de reprovação gozadora de meu pai, que ainda solta um “mas você também pede, né?”