Há alguns meses, no aniversário da filha de um casal de amigos, meu filho brincava sem parar com a filha de um outro casal de amigos. A segunda onda dos contemporâneos, a primeira, quando você vê quase todos casados, depois, a dos primeiros filhos nascendo. Eram quase da mesma idade, poucos meses os separavam.
O que se pode esperar de crianças brincando é muita bagunça, muita gritaria, muita sujeira, muitas risadas. E uma briguinha boba eventual. Por um brinquedo, um doce, um lápis, porque cansou, sei lá. Dado que isto VAI acontecer – ensinamos para reduzir, não para evitar – a grande pergunta que se faz é “o que fazer quando isto acontece?”
Eu conversando com um grupo de amigos, chega meu filho, com carinha de tristonho.
– Que foi, filho?
– A Bia me bateu.
O mundo dele tinha caído.
Pergunto o que tinha acontecido. Uma besteirinha qualquer, transformada em inimizade eterna na cabeça de uma criança.
Pergunto como ele se sente, e diz que está triste, e vem todo cheio de chamego pro meu colo.
Falo que está tudo bem. Que bater é errado, que ele sabe que nunca pode fazer aquilo com ninguém.
Pergunto se ele quer brincar com a Bia de novo. Ele diz que sim.
Então, sugiro que ele vá lá, dê um abraço nela, diga que está tudo bem.
Ele faz uma cara de quem não tinha entendido nada. Afinal, “mas foi ela quem me bateu!” E eu a explicar que não tinha importância. Que ela era amiga dele, que ele gostava dela, e que de vez em quando essas coisas acontecem, mas que sempre vai ficar tudo bem.
Ele desceu, todo envergonhado, cutucou a Bia no ombro, e eles se deram um abraço. Logo, estavam derrubando tudo de novo, a nova aventura era tirar as pedras de jardim e jogar em tudo quanto era canto, para desespero dos condôminos e divertimento daqueles cujo único dever era o de rir da situação.
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Temos que tomar cuidado com as mensagens que passamos a nossos filhos. Se queremos um mundo melhor, precisamos entender como fazer isso. Muitas das coisas em mim eu não serei capaz de mudar, cabe, então, moldar a nova geração a um novo comportamento.
Um comportamento de saber o que é errado, mas de compreender o que deve ser feito para resolver conflitos. Porque, minha gente, problemas vão se amontoar e pedir senha na fila de espera durante a caminhada.
Melhor assim. Que ele sofra um nadinha quando acontece algo de ruim, por inevitável, mas que seja mais humano, entendendo, assimilando, levantando, sacudindo a poeira e voltando a ser quem ele é. Que veja que, às vezes, o mundo é injusto, mas em muitas destas vezes cabe a nós transformá-lo num lugar melhor.
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