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Búzios, a inflação e a farofa

Búzios, a inflação e a farofa

Búzios é um centro internacional do turismo. Um tanto culpa de Brigitte Bardot, que virou até estátua por estas bandas. Mesmo em dias de baixa temporada, temperadas pela quantidade – nunca exagerada para quem vive desta indústria – de feriados prolongadores de fins-de-semana em sequência, vê-se muito gringo na rua. Uma migrante de Natal, que veio visitar a tia e decidiu largar carreira e recomeçar na cidade pela qual se apaixonou, afirma que 1 em cada 4 habitantes é argentino. Imagino que haja um certo exagero na estatística, mas entendo de onde vem a extrapolação.

Na pousada, os formulários são em espanhol. Os mapas também. Um jovem argentino veio para passar uma temporada, procurou emprego, aqui achou e aqui ficou. Diz a recepcionista que mais de 60% dos visitantes é ou argentino ou chileno ou uruguaio. Na praia, também o cardápio em espanhol. Acredito que não entenderam muito bem que o peso argentino está desvalorizado. Ou talvez tenham entendido que a moeda oficial dos nossos hermanos é o Euro, dada o sentimento europeu que permeia a pretensa superioridade portenha.

Uma porção de batatas fritas: 35 reais.

Uma porção com 6 mini pastéis: 45 reais. Mini. Pastéis.

Um peixinho básico para 2: 160 reais.

– Dois dias? – Pergunto.

– Não. Duas pessoas, sem muita fome.

Tudo em porções francesas.

No fim do dia, uma família avalia a possibilidade de ter que vender a criança para bancar a conta estratosférica. Os pais, desesperados, oferecem um rim, talvez um de cada, mas os credores estão pedindo até um pedaço do fígado para quitar a dívida. Negociação complicada.

Os ambulantes vão e voltam, mas logo não se mostram alternativas viáveis. Queijo coalho de 10 reais. Um Chicabon de 15 reais. Decidimos que amanhã vamos fazer uns sanduíches no café da manhã, esconder na mochila e levar para a praia.

Farofada é, sobretudo, questão de planejamento financeiro.

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