Lendo agora
Canção da despedida

Canção da despedida

reveillon, virada, ano novo, despedida, 2020, 2021

Daqui a três dias, 2020 se desfará em despedida. E foi um ano repleto delas.

Nos despedimos de entes queridos, seja no seio familiar, seja em personalidades públicas com quem nos identificávamos. Vi meu avô morrer, mesmo que não de Covid, mas ter um enterro expresso, sem que os que o amavam pudessem prestar simbólica homenagem.

Teremos despedida?

Ao mesmo tempo, nos despedimos definitivamente da civilidade na gestão pública. No esgoto da alma, a economia sobrepõe vidas, curandeirismo vale mais que ciência, mentiras são mais fortes que verdades. E vacina, sabe-se lá quando – pelo menos no âmbito federal. Para que a pressa, mesmo?

Seria justo, pois, em um ano imprevisível, despedir-se dele com atés que enfim e nunca mais. Suspeito, entretanto, que o cerne de um ano miserável terá segunda temporada automaticamente renovada em 2021. Muito há de continuar, ao menos nestes meses iniciais.

Todas as 4 divisões do Campeonato Brasileiro vão invadir o ano. Na série A serão apenas 10 dias de interrupção, de ontem ao dia de Reis. O governo e alguns clubes de futebol, governados por desumanos da mesma estirpe, seguirão sem impeachment, pelo menos na largada. Deveremos ver – e torço com fervor para que eu esteja errado – o surto da pandemia piorar ainda em janeiro, resultado das aglomerações “necessárias por causa do psicológico” de fim de ano.

Haja fé para crer na virada. De onde virá, então, a esperança?

Se dependermos da humanidade de ridículos tiranos no exercício de seus podres poderes, 2020 ainda se estenderá por muito tempo mais. Até mesmo a promessa de não se fazer promessas deverá ser descumprida nas primeiras horas.

Chamada para agir

Entendo que a mudança virá a partir do momento em que assimilarmos nossa responsabilidade individual e agirmos de acordo, respeitando-se os limites de nossas capacidades. Com isso, não apenas teremos surtos de consciência, mas também quem sabe poderemos renunciar ao confortável papel de militante de internet e lutar efetivamente em busca de nossos ideais – e que sejam ideais que mirem a coletividade e a inclusão, nunca a submissão.

Abandonem-se, pois, as famigeradas e inúteis notas de repúdio e que se avance na recuperação do retrocesso experimentando neste 2020 – e não só nele, como também nos anteriores. Temos mais que sobreviver.

Talvez esteja aqui o ápice do discurso do agradecimento pela vida. Não se trata, pois, de poder viver no pleno exercício da cidadania e da liberdade, mas sim o “pelo menos estou vivo” levado às mais infames consequências. Na indiferença de “e daís”, um dia a mais respirando é quase um agradecimento à benevolência de uma violência intolerante que não aceita questionamentos. E seguir adiante sem se opor à psicopatia de quem se regozija com a morte, é sucumbir a interesses nefastos. Rompamos a inércia.

Que venha 2021.

***

Minha despedida do Correio

Esta é minha última coluna aqui no Correio. Nestes 3 anos, 7 meses e 13 dias, foram cerca de duas centenas de artigos e várias séries especiais. Muito escrevi sobre futebol, mas fiz também análises políticas, crônicas e contos. Mas agora é hora de andar por outros cantos. Aos que estiveram comigo neste período, como equipe interna do jornal ou principalmente como leitor, muito obrigado. E estaremos juntos, aonde quer que eu vá.

Gabriel Galo continuará sendo escritor, fiel a seus valores e cheio de projetos.


Artigo da despedida foi publicado na edição impressa e no site do Correio da Bahia em 28 de dezembro de 2020. Link AQUI!


Para ler mais artigos meus no Correio*, clique AQUI!


Assine nossa newsletter!

Conteúdo exclusivo e 100% autoral, direto no seu email.


Apoie!

Antes de você sair…. Tudo o que você lê, ouve e assiste aqui no Papo de Galo é essencialmente grátis. Inclusive o que escreve em outros lugares vêm pra cá, sem paywall. Mas vem muito mais pela frente! Os planos para criar cada vez mais conteúdo exclusivo e 100% autoral são muitos: a Papo de Galo_ revista é só o primeiro passo. Vem por aí podcasts, vídeos, séries… não há limites para o que pode ser feito! Mas para isso eu preciso muito de sua ajuda.

Você pode contribuir de diversas maneiras. O mais rápido e simples: assinando a newsletter. Isso abre a porta pra gente chegar diretamente até você, sem cliques adicionais. Tem mais. Você pode compartilhar este artigo com seus amigos, por exemplo. É fácil, e os botões estão logo aqui abaixo. Você também pode seguir a gente nas redes sociais (no Facebook AQUI e AQUI, no Instagram AQUI e AQUI e, principalmente, no Twitter, minha rede social favorita, AQUI). Mais do que seguir, participe dos debates, comentando, compartilhando, convidando outras pessoas. Com isso, o que a gente faz aqui ganha mais alcance, mais visibilidade.

Livros!

Ah! E tem também os meus livros! “Futebol é uma Matrioska de Surpresas” (2018), com contos e crônicas sobre a Copa do Mundo da Rússia, está na Amazon, esperando seu Kindle pra ser baixado. Além disso, em dezembro de 2020 lancei meus 2 livros novos de contos e crônicas, disponíveis aqui mesmo na minha loja virtual: “A inescapável breguice do amor” e “Não aperte minha mente“.

Mas tem algo ainda mais poderoso. Se você gosta do que eu escrevo, você pode contribuir com uma quantia que puder e não vá lhe fazer falta. Estas pequenas doações muito ajudam a todos nós e cria um compromisso de permanecer produzindo, sem abrir mão da qualidade e da postura firme nos nossos ideais. Com isso, você incentiva a mídia independente e se torna apoiador do pequeno produtor de informações. E eu agradeço imensamente. Aqui você acessa e apoia minha vaquinha virtual no no Apoia.se.


Ver Comentários (0)

Deixe um comentário

Seu e-mail jamais será publicado.

© Papo de Galo, desde 2009. Gabriel Galo, desde 1982.