Ao meio-dia deste 14 de junho de 2018, no grandioso Estádio Luzhniki, em Moscou, a bola vai rolar para o maior evento esportivo do mundo. Sim, maior que as Olímpiadas. Porque nenhuma organização singular movimenta tantas paixões, tantos sentimentos, por vezes conflituosos, quanto a Copa do Mundo.
Se na primeira fase teremos partidas do naipe de Portugal x Espanha, mais jogos de Brasil, Alemanha, Argentina e outras seleções favoritas, teremos espaço e público para que clássicos como Irã x Marrocos ou Panamá x Tunísia ganhem contornos épicos. Há um canto para todos na Copa.
A cada rolar da bola, os jogadores são um povo inteiro, com alma na ponta da chuteira. Dentro das quatro linhas, o 11 selecionado vestirá o manto sempre sagrado. Será a personificação e a condensação de populações contadas em milhões. No Egito, serão todos Salah. Em Portugal, serão todos Cristiano Ronaldo. Na Argentina, serão todos Messi. Aqui no Brasil, seremos todos Neymar. Cada nação vai com o que tem. E assim serão todos Modric, Lewandovski, Navas, Suárez, Rodriguez.
Este povo, aqui e alhures, vai se ver representado, batendo no peito um coração mais patriota, mesmo que num efêmero pulsar que morre quando acaba e voltamos ao normal, ao choque do cotidiano. Neste ínterim, bandeiras ganharão as ruas e cantaremos sermos de nossas nacionalidades com muito orgulho, com muito amor.
Por 31 dias, o globo entende que a prioridade é aquela feliz e colorida confraternização de gente que fala esquisito, que se veste diferente, que tem até um alfabeto próprio. O planeta bola unindo e reunindo mesmo aqueles que se encontram em espectros distintos no embate de ideologias. É um armistício poderoso, em que as guardas são baixadas para dar lugar a um abraço caloroso de boas-vindas.
Passaremos os dias inventando pretextos para matar a aula, para criar ‘horários flexíveis’ no serviço, para marcar o encontro de amigos, com direito a feijoada, churrasco, caipirinhas e cerveja gelada. Trabalharemos com a internet plugada no aplicativo que passa o jogo ao vivo. E ai de quem marcar reunião justo na hora de jogo importante!
Além do jogo jogado, tem a resenha que come solta. Em metafóricas mesas redondas reúne-se confluência dos gatos mestres que moram em cada um de nós, apaixonados pelo esporte bretão. Seguiremos tentando adivinhar quem será o azarão da Copa. Palpitaremos sobre qual gigante cairá na fase de grupos, quem será o artilheiro, o melhor jogador.
É um período tão mágico, tão surreal, que nos vemos imunes aos constantes ataques daqueles que enxergam o mundo em preto e branco, cegos para a diversidade furta-cor da realidade. Gosta da Copa? Ótimo, vem comigo. Não gosta? Ótimo também, só não me encha o saco. Porque, sinceramente, minha atenção estará voltada para os memes do craque-chorão ou da derrota acachapante, praquele golaço que vai sair, pro Zagalo emocionado, pra peituda pintada querendo seus 5 minutos de fama, pra alguém lançar uma resposta atravessada no repórter mala, pra gafe ao vivo. Vale tudo, vale o que vier!
Histórias serão contadas. Biografias terão seu capítulo áureo, ou seu mais baixo fascículo. Injustiças serão cometidas. No fim, o resultado será um acúmulo empilhado e fazendo ruma de humanidade, de vida, de civilidade. Porque o futebol exagera seus alcances. Amplia seus horizontes para muito além das 4 linhas. Abraça o mundo e inclui o que temos de melhor em cada um de nós. Vai começar: vivamos a Copa do Mundo!
* Gabriel Galo é escritor.
Texto publicado em 14 de junho no site do Correio da Bahia. Link AQUI!
Ótima crônica, mas faltou um revisor!
Oi, Gabriela. Às vezes, na pressa, escapa algo. Onde exatamente você encontrou algo para mudar?
Obrigado pelo comentário!