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Criança feia não tem quem a crie

Criança feia não tem quem a crie

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É uma verdade dolorida: as redes sociais, onde expomos nossas opiniões sem privação, fez com que a rastreabilidade do erro se tornasse instantânea e ampla.

Uma coisa é pagar o BO de um erro dentro de uma esfera restrita e esporádica. Outra complemente diferente é assumir BOs de erros recorrentes, graves e públicos. Assim, apela-se ao maior trunfo dos canalhas. Se pego na malandragem, nega até a morte, bote na conta de quelé, mas nunca leve pra perto o ônus do erro.

É o que vemos agora dentro do campo progressista com as atitudes repudiantes de vários integrantes do BBB 21. Como explicou o professor Wilson Gomes em entrevista recente à BBC, a esquerda montou palco, subiu, e não gostou do que viu. Porque ali só tinha espelho.

Assim, tal qual trumpistas que dizem que o ataque ao Capitólio foi feito por antifas infiltrados, se eximem de responsabilidade na criação deste monstro de fiscalização identitária. A culpa sempre é do outro.

Assim, a pessoa passa a ser alguém que “não fala pelo movimento”, como se este tivesse comitê que define quem tem voz ou não, ou então “não é progressista de verdade”, buscando um post de priscas eras para mostrar como a pessoa continua a mesma de sempre. Ou seja, “nunca foi uma de nós, sempre foi lá do outro lado”.

Outra argumentação frequente é a de que “a Globo montou estrutura para deslegitimar a esquerda”. Não que a Globo valha muito, mas não costumo confiar em teorias conspiratórias, especialmente quando me fio no âmbito da observação.

Quem convive em ambientes progressistas sabe como Lumenas e Karois brotam do chão para fiscalizar a fala de qualquer pessoa, deturpando conceitos para se erguer como ápice da moral. Gente insuportável, desagradável, debochada. Que não tem na interação qualquer intenção de educar, de acolher, de explicar, senão o propósito único de apontar no outro a falha imperdoável.

Não é à toa que expressões como “esquerda caviar” e “esquerda cirandeira” foram criadas.

Meses atrás vi o rompante raivoso de um homem trans que, ao ser tratado como pessoa, palavra que busca términos femininos, mas que não tem qualquer relação de gênero, atacava a outra pessoa – que trata a todos como “pessoa”, pois acredita não ser este termo excludente – porque ou deveria se referir a ele no masculino ou no pronome neutro. A pessoa atacada explicava, mas para o “ofendido”, tinha que ser assim e acabou.

O ofensor, portanto, valendo-se de uma mentira por ter sido ofendido, sequer conseguia formular raciocínio para explicar que, no fundo, sua dor como homem trans era tão profunda, que a menção a qualquer pronome feminino despertava sua ira. Terapia, meu povo.

Quem quer briga, vai achar motivo. E essa gente quer guerra constante.

E quando a ofensiva raivosa dos paladinos da moral atinge a todo um povo que muitas vezes sequer consegue compreender a complexidade dos conceitos levados, quando não um bando de palavra comprida e sem sentido, ouve ataques da artilharia, e se afasta da causa.

E quando dá ruim, em vez de deitar a cabeça do travesseiro e entender que Lumenas são muito mais regras que exceção, saem tentando doar o filho pros filhos.

“Cê conhece Neco? Né comigo, não!”

Só que sem olhar pra dentro e entender asa raízes que multplicaram Lumenas e Karois por aí, garante-se que a causa vai viver na impossibilidade. E talvez seja isso mesmo que queiram. Há certa beleza em lutar por causas perdidas, mesmo que se tenha que perdê-las preventivamente.


Artigo para a Papo de Galo_ revista #11, de 12 de fevereiro de 2021, páginas 39 a 41.


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Capa da Papo de Galo_ revista #11, de 12 de fevereiro de 2021.

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