Em meio a um calendário comprimido ao extremo, Bahia e Vitória encontraram uma brecha rara. Ao tricolor, dez dias de descanso; ao rubro-negro, doze dias de intervalo. Período de parada que se mostrava necessário dada a trajetória das equipes neste 2020.
A chegada de Mano Menezes ao Bahia não trouxe a injeção de ânimo que se esperava. A apatia do crepúsculo da era Roger Machado permaneceu. Pequenas melhorias foram notadas na organização tática, mas o brio gelado de um time que não leva o coração para dentro de campo fez com que a fase permanecesse ruim. Com isso, o clube mergulhou na zona do rebaixamento da Série A, flertando com a lanterna da competição. De momento, a expectativa de briga pela Libertadores está descartada. O objetivo do Bahia se tornou menos nobre.
Para além da questão dentro de campo, Mano também vai ter que blindar o elenco num ambiente de questionamentos severos à direção de futebol do tricolor. Em meio à crise de resultados, todos são cobrados, especialmente quando o clube trabalha tão bem sua imagem institucional. O nome mais forte deveria impulsionar placares dentro de campo, o contrário do que se vê.
Na Série B, devido à quantidade colossal de empates, a pontuação do G4 não é tão distante daquela do Vitória. As partidas contra Cruzeiro e Juventude deveriam acender luz vermelha. A covardia exagerada contra um adversário superdimensionado e outro recheado de reservas, além de um retrocesso tático notório, indicam que ainda há muito o que assimilar em termos de objetivo de trabalho. E enquanto alguns se satisfazem com desculpas e transferência de culpa, outros despertam para a condição rubro-negra e seu teto.
Trabalhará com afinco a dupla Ba-Vi para voltar em outras condições depois da pausa, disso não se duvida. A questão é de ordem mais pragmática: ambas estarão efetivamente diferentes?
A transformação nessa pausa não é apenas de ordem tática. Tem um passo que precisa ser revertido. Urge, para ambos, um choque de ânimo e de senso de urgência. E é nesse sentido que pausa oferece um descanso mais do que merecido a uma multidão que, confessadamente, não aguentava mais sofrer: o torcedor.
Assistir a Bahia e Vitória em campo doía na alma do apaixonado da arquibancada. Em campo, em vez de representantes de nações vibrantes, se arrastavam bandos desordenados e sem força, incapazes de buscar saída para a derrota que se aceitava no apito inicial do árbitro. Coisa de desistente que ‘aceita sua condição e seu lugar’ e que, descabido!, confunde vontade com violência e imprudência. Ora!
Onde foi parar a equipe que ninguém deveria vencer em vibração?
Onde se escondeu a equipe que deveria fazer seu grito ouvido pelos cantos do Brasil?
Neste próximo sábado, ambos tomarão os gramados novamente. Do lado de cá da tela, o torcedor vai acompanhar com fervor pronto para explodir em paixão, tanto para o bem, quanto para o mal.
Rever a alegria em campo significará sucesso na pausa, que o descanso era peça-chave para solidificar conceitos e reorganizar ideias. Já testemunhar o desfile merencório de antes, sem avanço significativo, será lembrança inegável de o quanto a pausa poderia ter durado mais tempo. Não para que se treinasse um pouco mais, mas para que o torcedor não se envergonhasse pela exibição com desdém daqueles que vestem o manto que define paixões.
Gabriel Galo é escritor
Foto: Ascom EC Vitória
Artigo publicado na edição impressa e no site do Correio da Bahia em 21 de setembro de 2020. Link AQUI!
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