Os lunáticos e heroicos 8.822 torcedores pagantes logo jogaram a toalha. Dez minutos foram suficientes para que houvesse a certeza da derrota, da inescapável goleada, da vergonhosa atuação.
Se havia um abismo entre o estelar elenco palmeirense e o desconjuntado rubro-negro, no fundo da mente residia a esperança da retomada contra tudo e contra todos. Do desejo de se fazer valer o efeito Barradão, de se alimentar a fome local contrastando os verdes mais preocupados com outros campeonatos, de se valorizar a estreia de Carpegiani.
A pequenez foi sentida pela diminuta presença pagante. Ainda no primeiro tempo, alguns tomavam o rumo de casa, pensando no desperdício do domingo. Outros até aguentaram a tortura de ver sofrer o terceiro tento no segundo tempo.
Os que ficaram protestaram como dava. Gritavam olé para o adversário, vaiavam o patético cai-cai rubro-negro. Assimilavam a imutável regra da vida: a malandragem é o último recurso dos incompetentes.
Porém, sejamos honestos, a vaia nem veio com tanto volume. Mas não porque parte da torcida acredita que tem que apoiar enquanto bola estiver rolando. Baixou-se o volume por conta de um sentimento que dói fundo num esporte movido pela paixão: a desesperança.
Afinal, como apoiar obesos e indiferentes e desinteressados e descoloridos no campo de jogo? Como gastar a voz com aqueles que tentam toques de calcanhar esdrúxulos com o jogo perdido? Como exaltar a honra de uma história mais do que centenária enquanto a instituição é achacada por uma gentalha que insiste em diminuir o clube? Afinal, como ousar questionar a extensão resiliência dos oprimidos?
Assim, a cada jogo, a cada notícia, nos vemos inevitavelmente abraçados ao destino do rebaixamento. Evidencia-se a confluência de espirais reducionistas em ações, posturas e resultados. Queda, rebaixamento, rendição, desculpas, apequenamento, fuga, fingimento, cai-cai. O Vitória é um amontoado de tendências ao insignificante.
A humilhação constante expele vergonha, que desemboca na raiva, que por sua vez, é transformada em indiferença. Adentramos a última e perigosa fase. Porque nela, tanto fez, quanto tanto faz. Não há importância. Há cansaço e “ tenho mais o que fazer de minha vida”.
A vaia abafada do pós-jogo é o fruto da resignação de quem busca desesperadamente por um alento, mas só recebe desamor. É o possível de uma massa que vê em campo um bando desgovernado com o qual não se identifica, não reconhece, que não aceita.
Torce-se intimamente pela recuperação, mas com ares de fantasia. Estão os rubro-negros em compasso de preparação para o baque, em trabalho de redução de expectativas para amenizar o sofrimento. O momento é a antítese do futebol, da emoção, da vibração. Esse Vitória é o retrato da desesperança.
* Gabriel Galo é escritor.
Artigo publicado em 20 de agosto de 2018 na página 2 e na internet do Correio da Bahia. Link AQUI!
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