Salvador, 29 de janeiro de 2017
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“A vida é a arte do encontro”
Vinícius de Moraes
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Quantos encontros com gente de primeira grandeza um dia consegue suportar? Lição: vai faltar tempo se você decidir que dá para colocar um monte. E faltou, e gerou um gosto de quero mais, que é gostoso, mas que bate um certo lamento por ter a impressão de que mais poderia já ter tido.
Depois de escrever o texto do dia, segui para a casa de meus avós. Muito dengo em voinho, mais um monte de cheiro em voinha, que sempre fica numa felicidade enorme quando me vê. Pergunta de todo mundo, da família toda, dos parceiros da família, dos filhos, e por aí vai. Quer saber de tudo! Já meio surda e totalmente cega, deitada descansando, me dá um mata-leão para manter meu rosto próximo ao seu ouvido, garantia de que vou ficar por ali e que vou conversar com ela. Cada um demonstra carinho da maneira que consegue.
O almoço estava já no seu preparo.
Passo de casa em casa, eles a me distribuir carinho e afeto, coisa de gente que tem isso de sobra, talvez até com os que de fora, porque com os de dentro, muitas vezes, o que se vê é desassossego.
Quando nos damos conta, já passa da hora de sair para o próximo compromisso.
Seguimos para encontrar com Davizinho de Mutá, lenda viva da pacata vila de pescadores, que tanto já foi citada nesta tribuna, cantor e compositor de samba de roda do recôncavo, tipo de samba hoje internacionalizado por Mariene de Castro. Mais sobre ele em breve. Muitas cervejas, conversas, histórias, risadas, piadas e…
Quando nos damos conta, já passa da hora de sair para o próximo compromisso.
Um café da tarde com Celina, amiga antiga da família, madrinha de meu irmão. Mesa posta e completa: cuscuz marroquino com vinagrete, pão italiano, pão delícia, frios e requeijão, bolo de aipim, banana da terra assada, cafezinho quentinho feito agora, sucos… Um banquete! Mas, veja como são as coisas, já falei do dissabor de quando o-que-não-tem-hora-para-acabar encontra o-que-tem-hora-para-começar, e assim se fez uma vez mais. Apressa aí, Celina, bó comer um acarajé em Cira que tem Marcus e Olenka!
(Um pouco de contexto: Marcus e Olenka são amigos de Escola Técnica de meu pai)
Na reformada praça de Itapuã, sentamos já com acarajé e cerveja gelada nas mãos. Primeiro chega Marcus, e tome papo. Marcus é deste tipo de gente que vale a pena ter por perto. De fala mansa, desfila histórias, viagens, o Pratigi e o caranguejo. Na sequência, Olenka, que também é destas pessoas que vale a pena ter por perto. Senhora dos gatos de Itapuã (o bicho, até onde eu sei; de gato-gente, melhor perguntar para ela diretamente), é uma pessoa de um carinho e energia apaixonantes. Impossível não gostar de Olenka. De riso fácil, tome mais histórias, mais conversa.
De tudo um pouco, falamos de Salvador e do mundo – o que para muitos é a mesma coisa –, dos amigos novos e antigos, do que é bom, do que aflige, dos planos e das dúvidas, e como uma boa palestra tem que ser, quando nos damos conta, melhor ir embora porque senão filho fica preso no shopping fechado. O que era para ser rapidinho, se estende por 4 horas, e ainda falta.
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Criar, manter e alimentar amizades foi algo que tenho constantemente aprendido nessa vida. Gente que vale a pena é ouro nessa vida. E gente que vale a pena que ainda dispõe de seu tempo para você?
Num mundo sem tempo, para você eu acho espaço.
Estes, então, valem o mundo, são o sal da vida. Gente por quem bate a curiosidade genuína de saber como estão as coisas, se está bem, se está feliz. Gente para quem vale ligar para simplesmente bate papo, jogar conversa fora, prosa mole e sincera.
Tempo não importa, às vezes parece que foi ontem que nos vimos ou conversamos pela última vez.
“Vamos nos ver? Estou com saudades.”
E quando falado, sentido, significando.
Este domingo sintetizou o que amizade efetivamente significa.
E me fez sentir um homem de sorte por estar cercado de tanta gente boa.
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Vou voltar a Itapuã ainda em breve a ver o pôr-do-sol, jamais mais belo, mas que se revelou inteiramente novo em uma tarde-noite.
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