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Do culto ao mito

Do culto ao mito

Edir Macedo, prisão, cárcere, livro, mito

Vocês conhecem essa foto?

Em maio de 1992, Edir Macedo, o líder da Igreja Universal do Reino de Deus foi preso. A acusação girava em torno de estelionato, além de outros alegados crimes. Acossado na saída de um culto, permaneceu detido por 11 dias. No dia 25 de maio de 1992, Epitácio Pessoa bateu esta foto que virou ícone da resistência da Universal e catapultou seu crescimento. Nela, Macedo serenamente lê um livro dentro da cela. Quando libertado, marchou diretamente ao mesmo templo da Universal onde pregava como pastor na noite em que foi preso. Lá, proferiu seu discurso inflamado com virtuosa oratória. Dizia-se preso religioso, que estava cerceada a liberdade de religião no país. Afirmou ter se fiado na palavra de Deus para permanecer firme e forte durante a tempestade. E, ser humano superior, confessou ter doado Bíblias para todos os policiais que participaram da operação.

Não é que a Igreja Universal fosse pequena naquele momento. Longe disso. Seus templos se acumulavam aos milhares Brasil afora. Desde 1990 enfrentava campanha ferrenha da Rede Globo contra sua atuação, com reportagens de bastidores de treinamentos de como pedir dinheiro. Também ficaram na memória as imagens de um evento no Maracanã em que arrecadadores de doações de fieis carregavam sacos de dinheiro nos ombros, numa contabilidade estimada em convertidos milhões de dólares recebidos em um único dia.

À argumentação de fé da Universal faltava um elemento principal: a solidificação de um mártir.

A proliferação das igrejas evangélicas revolve, em sua maioria, em torno um único nome. Bispa Sônia. Waldomiro Santiago. Edir Macedo. R. R. Soares. Marco Feliciano. Silas Malafaia. O que há em comum entre quase todos eles? Acusações criminais de diferentes origens.

Pois é na imagem do cárcere – efetivo ou possível – que nasce o mito. A figura que se aproxima, em apropriação indevida, mas encravada no inconsciente coletivo, de um Jesus Cristo redivivo. “Fui acusado injustamente, preso e condenado, porque lutei pelo meu povo.” Esta jogada de manipulação factual para atender aos anseios de seguidores fervorosos é repetida sem criatividade mundo afora. Incluindo segmentos às margens da religião organizada, mas que se assemelha em oratória, em discípulos, em entidade e em mito.

Sim, estou falando de Luís Inácio Lula da Silva.

Do ponto de vista estratégico, foi proporcionada ao retraído PT a chance de reerguer-se em volta daquele que carrega consigo metáforas demais do Messias do novo tempo. São analogias demais para serem desprezadas: pobre, do povo, sofrido, nascido no árido sertão, analfabeto até larga idade, de barba, líder de sua seita, julgado e condenado pelos governantes ameaçados pelo seu poder. Se morrer encarcerado, será elevado a ser divino pelos seus, que carregarão sua cruz e seus ideais, porque, como ele mesmo afirmou, não é mais um ser humano, é uma ideia.

Falta pouco para o PT virar igreja, uma igreja que unirá a esquerda em torno do novo Pedro, primeiro papa. (ou melhor, o candidato que será apoiado por Lula no pleito de outubro deste ano)

AleLULA!

Assim será que, em breve, virá a primeira foto de Lula na cadeia. Cuidadosamente selecionada, mostrará o líder firme, forte, lutando contra tudo e contra todos pelo bem do povo sofrido que ele tanto diz amar. Será somada nos autos da militância aos números de seu governo como Presidente (em sua maioria positivos) e às críticas ao processo penal adotado contra ele (há debates acalorados borbulhando por aí com vereditos analíticos “definitivos” pendendo tanto para um lado quanto para o outro).

Pois pelo retrato que materializa a sentença, o ente por trás das grades será saudado com ainda mais paixão como o salvador por milhões de vozes. Repetir-se-á, enfim, a sina de construção de mitos, tal qual tão bom fruto fez Edir Macedo, exemplo máximo desta prática em perfeita execução. Seus apóstolos 2.0, – Gleisi, Lindbergh, Guillherme, Manuela, Jacques, dentre outros – carregarão seu fardo com a certeza de que o caminho é este e não deve ser questionado. Até porque, espertos que são, sabem do presente estratégico dado ao partido para que retome parte de sua força perdida nestas próximas eleições. Com o bônus de poder unir a esquerda que estava despedaçada em nomes demais.

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