Pois muito bem, o futebol voltou. Em cinco dias, tanto Bahia quanto Vitória entraram em campo quatro vezes. Mas, dentro de campo, assim como fora dele, os rivais operam em sintonias que não poderiam estar mais apartadas. É enorme a distância entre a dupla Ba-Vi.
Primeiramente, pelos resultados. Desde o retorno, o Bahia jogou bom futebol. Está classificado para as semifinais da Copa do Nordeste e do Campeonato Baiano. Em que pesem os erros graves de arbitragem nas quartas de final contra o Botafogo-PB – antes de complôs estapafúrdios e reclamações infundadas, tem mais importância a qualidade sofrível da arbitragem nacional, como enfatizaram Bellintani e Roger na defesa enfática do VAR – não se pode dizer que a classificação não é merecida. O Belo lutou bravamente, poderia ter tido melhor sorte. Mas o avanço é tricolor.
Já o Vitória se perdeu em bravatas, gritos e promessas vazias. Se o argumento da derrocada financeira por conta da pandemia era factível, num processo forçoso de negação da pandemia que vitima milhares de brasileiros pela negligência mórbida de governantes, o que se viu em campo lembra os piores momentos de 2019.
No ano passado, após eliminação nas mesmas duas competições, exatamente nas mesmas fases, o Vitória teve pouco mais de duas semanas para treinar para o início da Série B. Voltou pior. Mudou o técnico, veio a pausa para a Copa América, quatro semanas para deixar tudo nos eixos. Voltou pior de novo, apesar dos vãos esforços para se enxergar “evolução” em plena queda livre.
Agora, os tempos das pausas se invertem. A pandemia causou mais de 30 dias de treinos preparativos para a volta das competições. Mas o Vitória voltou, vê-se nitidamente, pior. Na eliminação precoce, duas semanas até a estreia da Série B. Haja fé torcedora para crer numa retomada que rompa com o ciclo.
Incomoda, no entanto, muito mais a terceirização da culpa. É a torcida que não apoia, que não se associa, esta mesma torcida que cria campanhas para amparar atletas do clube em momento de dificuldades, mas que é atacada em vez de enaltecida. É a imprensa que não investiga, distorce e joga contra, mesmo quando mandatários se orgulham em dizer que escondem o jogo.
Enquanto isso, testam-se novidades: a equipe trava, o condicionamento físico inexiste. Em quatro partidas, três empates e uma derrota. Apenas quatro gols marcados. Duas eliminações. Foi para isso que se fez tanta propaganda pela volta do futebol?
Reclama-se, com justiça e razão, pela situação financeira desesperadora do clube, mas quer mesmo dizer que o clube se equipara, nesse quesito, ao Doce Mel? Chega-se ao cúmulo de se externar que ninguém entende nada de futebol, só o um especial.
E nessa de apontar o dedo para o lado para esconder os próprios erros, vaga-se pelo vale da torcida de dirigente, que antes mesmo da eliminação dentro de campo, eliminou a racionalidade do debate público.
Maltratada, a torcida se cansa, se encolhe, se afasta. E vai se dando conta de que, no mundo moderno, bravata e gritaria não adiantam de absolutamente nada. E o retrocesso é rubro-negro.
Não quero dizer, com isso, que de um lado é só alegria e o outro é só lamento. Mas, definitivamente, Bahia e Vitória estão em momentos e espectros diametralmente opostos.
Gabriel Galo é escritor
Artigo sobre o momento da dupla Ba-Vi no retorno do futebol foi publicado na seção de esportes do Correio da Bahia, página 25 da versão impressa e também no site, em 27 de julho de 2020. Link AQUI!
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Fac-símile da página 25 da edição impressa do Correio* de 27 de julho de 2020 com meu artigo sobre a dupla Ba-Vi.
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