Desço para ir pegar e pagar a pizza, que o porteiro interfonou avisando ter chegado. O motoboy está teclando no seu celular. Diz ele, com voz rouca de quem fuma muito:
– Malandro é malando e mané é mané.
Ao me ver, guarda o celular, e segue com o procedimento.
– Boa noite, meu amigo! – Saúdo esticando a mão com o cartão para pagamento na mão.
– Ah, é cartão?
Ele bate com as mãos nos bolsos procurando o recibo que vai dizer o valor exato a ser pago.
– Eu me separei tem 6 meses. – Diz o agora íntimo motoqueiro.
– Ah, é?
– Pois é. Mas desde então, não olhei mais pra trás, não quis mais saber.
Ele me entrega a maquininha para eu digitar a senha.
– E aí?
– Minha ex-mulher mandou eu ir buscar meus direitos na justiça, a gente tem uma filha pequena.
– E deu tudo certo?
Estico a maquininha que já vomitava o papel autorizado por senha, no que ele abre a caixa para pegar minha pizza.
– Ah, sim, deu. Vejo minha filha sempre.
– Legal.
– Foram 7 anos juntos. E 7 anos não são 7 meses, né?
– Sei bem como é. Fiquei junto com minha ex-mulher por 9 anos.
– Ah, então você me entende. Agora, do nada, vem com papo, querendo puxar assunto…
– Ih, rapaz… Pior que a gente, depois de tanto tempo, sabe quando a mulher quer algo mais.
– É a voz, meu amigo! A voz já diz tudo! E eu sou assim, acabou, acabou. Nem ligo mais depois. Agora vem com assunto? Aí tem!
Eu, de pizza na mão, e ele já virando as costas dando boa noite, rindo bastante. Estava o entregador feliz da vida pela procura afetiva que a ex-mulher lhe proporcionou. Sabe como é, coisa de mexer com o ego. Racionaliza que a jogada de ex esquecido e desinteressado deu frutos.
Talvez não seja exatamente isso, talvez seja, ou, então, talvez seja um pedaço, o que levou ao assunto puxado, como quem não quer nada, mas querendo tudo.
Sei não, mas se eu tivesse que apostar, a noite de terça-feira foi de nostalgia e recaída.
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