No dia 2 de setembro de 2019, ocorreu em São Paulo um encontro que deu início ao Direitos Já! Fórum pela Democracia. Junto com o colega Victor Saavedra, da Carta Maior, entrevistei Fernando Guimarães, líder do movimento.
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Victor Saavedra: Fernando, essa data é infelizmente icônica que foi a partida de Alberto Goldman, mas também é uma data que marca um evento que planeja lutar pelos direitos, que pretende defender de maneira suprapartidária os direitos dos brasileiros, independentemente de quem seja o presidente. Como é pra você e para a organização ter que comemorar e entrar no luto ao mesmo tempo.
Fernando Guimarães: O governador Alberto Goldman foi uma liderança muito importante na história da luta democrática. Nós perdemos ele ontem (1° de setembro de 2019) e hoje a própria família dele foi convidada para estar aqui, mas é um momento muito difícil. Agora é muito simbólico que a gente possa fazer uma homenagem pra ele num evento nacional, num evento que, do ponto de vista de pluralidade, o maior evento democrático da história do Brasil desde as Diretas Já, e que nós temos uma responsabilidade imensa pela frente, que é uma responsabilidade de todos que estiveram aqui, seja no palco, seja na plateia.
Essa foi hoje uma plateia qualificada no sentido de que todos os convidados que aqui estavam receberam ofícios, convites, vieram representando os mais diversos setores da sociedade. Estiveram aqui ambientalistas, educadores, cientistas, religiosos, artistas, então foi muito plural. E a gente conseguiu colocar no palco 16 partidos políticos, e isso é uma coisa que realmente motiva a gente, ao entender que agora a gente tem uma longa caminhada. Vamos correr o Brasil, estado por estado, numa agenda permanente de construção de mobilização da sociedade, e um observatório permanente na defesa do estado democrático de direito.
Gabriel Galo: Fernando, essa era minha próxima pergunta. Nos últimos anos vários movimentos surgiram e eles acabaram, ou esmaecendo, porque perderam força, perderam vitalidade, ou aderiram a uma pauta que, de tão específica, acabou não gerando tanta simpatia, como o Acredito e o Renova, que acabaram criando pautas que não são tão inclusivas quanto o que você traz pra negociação e pra debate. O que se viu aqui hoje foi o oposto, ao unir tantos espectros diferentes, religiosos e políticos, especialmente. Agora há um desafio que é manter esse movimento pulsante, vivo. Você comentou sobreo plano de correr o Brasil apresentando o Direitos Já. O que mais vai ser feito com relação a isso, pra que as pessoas se sintam mobilizadas, para que se sintam parte ativa, para que não seja apenas um movimento que conversa somente com pessoas que são convidadas, mas fazer com que a população se sinta acolhida, que as ideias e as necessidades sejam refletidas na pauta de quem faz a política no Brasil? Como fazer com que a população se engaje nesse movimento?
FG: Olha, a gente vive um momento histórico, que pede um movimento como esse, assim como nas Diretas Já, naquele momento, havia uma necessidade histórica. Então, a gente não teria conseguido unir tanta gente no palco se não houvesse uma ameaça ao estado democrático de direito. Então, o movimento vem com muito vigor, ele é muito plural.
Esse aqui é um espaço de 700 lugares e nós colocamos aqui o teatro cheio, com lideranças de todos os segmentos, e a sociedade estava representada aqui, os mais pobres estavam representados aqui. Diversas lideranças citadas aqui são de movimentos populares, de movimentos religiosos, de moradia… Então, eu diria que a sociedade brasileira, de alguma forma, estava aqui. Tinha gente de todos os estados do Brasil.
Estamos passando por momento em que as pessoas estão com um sentimento de impotência, em que direitos são suprimidos, todo dia que a gente acorda é uma pauta diferente que está sendo colocada. Aqui o que nós estamos dizendo é o seguinte: é um por todos e todos por um. Se um dia a alguém está sendo ameaçado, estamos todos. Isso dá muita força.
Quando a gente diz que vai correr o país, significa que isso tem uma importância não apenas simbólica, mas que a gente vai fazer com que em cada canto do país a gente consiga mobilizar a sociedade e, com isso, a gente vai ter capacidade de dar respostas a qualquer ameaça ao estado democrático de direito.
Uma outra questão é que, paralela a essa mobilização, há uma capacidade nossa de dar, agora, respostas a questões fundamentais com o peso de uma manifestação que consegue reunir esquerda, centro e direita, e uma pluralidade da sociedade. União nacionais dos estudantes, todas as centrais trabalhistas estavam aqui, a igreja estava aqui, todos os setores.
É claro que pra isso ser possível, a gente não pode ter a pretensão de que a gente vai ter todas as pautas que a gente gostaria de ter. O que nós temos é uma unidade em torno de uma pauta fundamental, que é a democracia, o estado democrático de direito, a garantia dos direitos humanos, Portanto, são pautas que produzem uma ampla convergência. Não há alguém que esteja do lado civilizatório que seja contra isso.
O que ocorria até ontem é que todos esses movimentos estavam desarticulados. Cada um mantém sua pauta independente em seu espaço, mas é importante ter um fórum, um espaço onde a gente consiga reunir todos e dizer “olha, quando se ameaçar algum direito, algum princípio fundamental, algum valor fundamental da Constituição brasileira, aí nós estamos todos juntos, nós damos um basta.”
VS: Quem foi o grande ausente nesse debate, quem você considera que deveria estar aqui participando, mas não veio?
FG: Eu não considero que teve uma liderança que tenha feito falta. Por quê? O movimento deu a largada hoje. Nós estamos numa construção de 10 meses. Nós tivemos muita gente participando dessa construção. E embora algumas personalidades não pudessem estar aqui hoje, mas os seus campos políticos foram representados por outras personalidades. Quem não esteve hoje, nós contamos num próximo. O movimento está de portas abertas a todos. O único critério para participação que a gente tem é que a gente reúne aqueles que têm compromisso com a democracia e com o estado democrático de direito. Nós estamos dispostos a dialogar com aqueles que em algum momento acreditaram neste projeto de poder que está instalado no país hoje, mas hoje se arrependem.
Nós somos um movimento de portas abertas.
Artigo na edição #1 da Papo de Galo_ revista, em 05 de junho de 2020.
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