Não sei se vocês também compartilham desta impressão, nem ao menos se ela está correta ou não. Não está pautada em métricas provadas, apenas por navegar pelas redes e notar uma leve mudança. Qual? Que os ânimos bélicos desta eleição 2018 estão levemente mais tranquilos. Que vivemos um possivelmente efêmero, mas necessário, período de calma.
Talvez seja o cenário consolidado, dando às palavras de todos que não sejam Bolsonaro e Haddad um certo ar de desespero, de último fôlego da morte certa. E como tal, têm sido desprezadas. A visão completa de definição (quase) imutável reduz a ansiedade pela incerteza.
Vejo mais tranquilidade no propagar de posturas e votos, tanto já violentamente externados, que parecem ter sedimentado a irredutibilidade. Se há certeza, podemos nos recostar tranquilamente sem a necessidade do alarde chulo que visa convencer menos aos outros do que a si mesmo.
Aos poucos, o tom vai ficando mais cordial. Não ideal, mas melhor.
Também não estou dizendo que estamos em tempos de paz. Ainda permanecemos longe de tal avanço. Mas que estamos mais resignados (ou talvez cansados), entendo que sim. Iniciou-se uma leve curva descendente na agressividade.
Efetivamente, no entanto, com o pragmatismo que varremos para debaixo do tapete, a incerteza não deixou de existir. Persistimos em uma decisão que espalha sinucas de bico. Correr ou ficar? Ser pego ou ser devorado? Ser ou não ser, eis a questão.
Ainda há muito tempo até o dia da votação do segundo turno. Com isso, parece que o dilema shakespeariano ficou lá pra longe, lá pra quando for pra valer mesmo. Sinto que estamos um tanto enfastiados da argumentação retrógrada, das diferenças aparentemente irreconciliáveis, do brado retumbante que dói os ouvidos e a alma. Chega! Trégua! Calma, gente!
Talvez seja esta fase apenas uma marola que antecipa o tsunami. Talvez seja um momento temporário de descanso, enquanto as militâncias se reequipam e reconstroem suas armadas. Talvez seja o fato de parte dos estimuladores da estupidez estarem calados, por motivos de hospital, ou por ordem maior – calem a boca, Magdos! Talvez seja a primavera que chegou contagiando espíritos. Ou talvez a impressão esteja furada e eu queira sobremaneira ver sombra, água fresca e civilidade, pregando, enfim, uma peça em mim mesmo.
Tendo, no entanto, a pensar que a água uma vez borbulhante está mais morna. Há calma, mesmo que efêmera. Parecemos até, por um instante, sem olhar muito de perto, um país civilizado. Por quanto tempo, impossível dizer. Mas que o ar respirável faz um bem danado, ah!, isso faz. Aproveitemos. O sol há de brilhar mais uma vez. E amanhã vai ser outro dia.
Crédito da charge: a genial Laerte Coutinho.