Acuado. Grogue. Enfraquecido. Abandonado. Entregue. Assim se sente o grupo de jogadores do Vitória em 2019. Como vírus sem vacina, a desesperança do elenco contagiou a torcida. A apatia da arquibancada é reflexo do que se vê em campo.
Muito se deve ao fato de que o fardo colocado nas costas deste grupo é pesado demais para o que são capazes de suportar. Reerguer uma instituição mais que centenária, popular, com horda de fanáticos exauridos em seu sofrimento, não é algo a se fazer só.
Ciente do óbvio, quem pode abandona o barco na primeira oportunidade. No fim, como julgar aqueles que aceitam condições melhores de trabalho? Não é questão de covardia. Vocação para mártir e para herói não se exige. Isto também diz muito da transitoriedade do elenco. Se eles se vão, a torcida fica e banca a conta do desespero.
O apelo é para que chegue alguém que consiga dividir o peso e assim aliviar a responsabilidade para, mais leve, voltar a ter prazer naquilo que pratica. A expectativa é por recepcionar alguém que lidere, que tenha capacidade efetiva e comprovada. Alguém que resgate a autoestima despedaçada, como se impusesse sua determinação em uma mensagem de “Tâmo junto. Vambora.”
Foi exatamente este sentimento de querer alguém que chegasse e resolvesse que conduziu Paulo Carneiro de volta à presidência. Só que o tiro saiu pela culatra. A verdade é que o que se implantou no Barradão não foi uma política de bom e barato. A regra é “quanto mais barato, melhor”. E o grupo sentiu.
Sentiu porque os novos contratados estão longe de serem líderes incontestes, que influenciam e motivam. De fato, a política de austeridade implantada, amontoando currículos questionáveis, faz crescer a certeza em todos de que o peso será sempre todo deles. Quando a esperança de mudança se esvai, joga-se a toalha aos 20 minutos do primeiro tempo dentro de casa ao se ver 2 gols no buraco.
A necessidade de nomes de peso também não exclui o filtro de capacidade técnica e física. Jogador também percebe quando a chegada vem para dar satisfação para a massa, mas passa longe de prover solução. Quem, com isso, lembrou de recentes tatuado 3 e rechonchudo 9, ou de um 10 bichado de anos atrás, não foi à toa.
Ao mesmo tempo, é fundamental entender também a condição financeira rubro-negra. Só que algumas poucas perguntas são suficientes para fazer ver quão mais prejudicial é não investir. Somando as rescisões e salários de comandantes dúbios, não seria melhor pagar mais para um técnico mais vitorioso? Somando-se os salários de Neto Baiano e Anselmo Ramon, não se contrata um 9 mais temido?
O prejuízo financeiro ganha conotação épica se considerarmos as eliminações precoces de Baiano, Copa do Nordeste e Copa do Brasil. E qual o potencial prejuízo de uma queda para a Série C? Irresponsabilidade financeira é a austeridade que mantém o passo-a-passo da falência e do rebaixamento.
O que está evidente é que agora não é hora de apostar. Não é hora de se trazer técnico de passagens obscuras e maus trabalhos. Não é hora de caneludos, ex-jogadores em atividade e jovens de quem nunca ninguém ouviu falar.
É hora de investir. É hora de trazer a torcida para perto, de abaixar o fogo, de oferecer trégua, ajuda e respeito. É hora de entender que os anseios de jogadores e massa são os mesmos. Porque esperar uma linda história de superação dentro de um grupo limitado e acossado, que não suporta mais o fardo que jogaram sobre suas costas, se aproxima de um milagre.
Gabriel Galo é escritor
Artigo publicado dia 03 de junho de 2019 no Correio*. Link AQUI!
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Crédito da foto de capa: Tiago Caldas / Divulgação EC Vitória