Lendo agora
Fazendo o possível

Fazendo o possível

racismo, antirracista, Angela Davis,

Sim, o mundo é racista.

Não precisa de muito para atestar a obviedade da frase. Além do óbvio está a questão de posicionamento individual: o que eu estou fazendo para reduzir o racismo na sociedade em que estou inserido?

Angela Davis, filósofa e emblemática ativista pelos  direitos civis dos negros americanos, diz que não basta não ser racista, é necessário ser antirracista.

Romper a barreira da cultura estabelecida exige esforço coletivo. Há de se abrir mão do monopólio dos privilégios.

Recentemente estive em almoço com um grande amigo numa grande empresa de tecnologia. O evidente ambiente descontraído escondia uma inclusão ainda pendente. Apesar das paredes coloridas e das inúmeras mensagens progressistas e de “estamos fazendo um mundo melhor”, faltava um grupo no emaranhado de orientais, tatuagens, LGBTQI+, mulheres que se juntavam ao homem branco, quase todos vestidos em roupas descoladas, meio geek, à vontade: o negro.

No grande refeitório de mesas comunitárias, apenas 3, dentre a centena naquele instante. Todos com camiseta de fornecedor, funcionários da cozinha, que fazem a pausa junto com todos. Decerto, inclusão não é isso.

Comentei com este amigo que a diferença entre aquela  empresa pretensamente progressista e o banco de investimento todo-branco com quem dividiam prédio era, tão somente, a roupa que usavam. Ele concordou e, então, me confidenciou alguns percalços dentro do processo seletivo que evidenciam o racismo estrutural –e, infelizmente, escancarado de alguns. Senti vergonha.

Porque eu, como este mesmo amigo já frisou, sou o estereótipo dos privilégios. Fato: o sistema atua a meu favor, sem precisar de muito esforço. É hora, então, de atender ao chamado de Angela Davis.

Aviso: ciente do terreno pantanoso da atribuição de regras à individualidade alheia, comento apenas do que posso, ouço, vejo, entendo e que aplico na meu dia-a-dia.

Assim, busco compreender a angústia e a raiva, naturais, válidas, justificadas, diante da atrocidade do segregacionismo.

Revi minha visão sobre cotas. Reverter parte do problema significa amplificar a convivência em qualquer ambiente, em especial naqueles historicamente brancos.

Na política, ambiente no qual tenho trafegado cada vez mais, coloquei como premissa de atuação a abordagem de temas socialmente amplos e de favorecimento e amparo aos mais necessitados. Mais do que isso: tenho como objetivo facilitar o caminho para que os excluídos se insiram no debate público.

No meu círculo de amizades, procuro conversar no privado sobre questões que considero pertinentes, vigiando-me para jamais apontar o dedo em acusação.

Sobretudo, luto arduamente para entender qual o meu papel nisso tudo, com cuidado extra para não buscar protagonismo numa causa sem lugar de fala. Por isso essa primeira revista analisa mais as ruas do ponto de vista político-sociológico que ao do movimento negro por visibilidade e respeito.

É pouco, não é suficiente, mas é o possível.


Editorial sobre racismo e posicionamento individual da Papo de Galo_ revista, edição número 1.

Papo de Galo revista, revista Papo de Galo, revista, Papo de Galo, Gabriel Galo, manifestação, resistência, democracia, racismo

Assine nossa newsletter!

Conteúdo exclusivo e 100% autoral, direto no seu email.


Antes de você sair…. Tudo o que você lê, ouve e assiste aqui no Papo de Galo é essencialmente grátis. Inclusive o que escreve em outros lugares vêm pra cá, sem paywall. Mas vem muito mais pela frente! Os planos para criar cada vez mais conteúdo exclusivo e 100% autoral são muitos: a Papo de Galo_ revista é só o primeiro passo. Vem por aí podcasts, vídeos, séries… não há limites para o que pode ser feito! Mas para isso eu preciso muito de sua ajuda.

Você pode contribuir de diversas maneiras. O mais rápido e simples: assinando a nossa newsletter. Isso abre a porta pra gente chegar diretamente até você, sem cliques adicionais. Tem mais. Você pode compartilhar este artigo com seus amigos, por exemplo. É fácil, e os botões estão logo aqui abaixo. Você também pode seguir a gente nas redes sociais (no Facebook AQUI e AQUI, no Instagram AQUI e AQUI e, principalmente, no Twitter, minha rede social favorita, AQUI). Mais do que seguir, participe dos debates, comentando, compartilhando, convidando outras pessoas. Com isso, o que a gente faz aqui ganha mais alcance, mais visibilidade. Ah! E meus livros estão na Amazon, esperando seu Kindle pra ser baixado.

Mas tem algo ainda mais poderoso. Se você gosta do que eu escrevo, você pode contribuir com uma quantia que puder e não vá lhe fazer falta. Estas pequenas doações muito ajudam a todos nós e cria um compromisso de permanecer produzindo, sem abrir mão da qualidade e da postura firme nos nossos ideais. Com isso, você incentiva a mídia independente e se torna apoiador do pequeno produtor de informações. E eu agradeço imensamente. Aqui você acessa e apoia minha vaquinha virtual no Catarse e no Apoia.se.


Ver Comentários (0)

Deixe um comentário

Seu e-mail jamais será publicado.

© Papo de Galo, desde 2009. Gabriel Galo, desde 1982.