Às 14:30h deste 11 de setembro de 2018, finalmente, o PT vai pôr fim à sua farsa travestida de campanha política. Efetivamente, no limite do prazo imposto pelo TSE, Fernando Haddad será elevado à categoria de cabeça-de-chapa em substituição a Lula.
Os efeitos da titularidade de Haddad ainda serão mensurados em pesquisas, mas cabe entender como esta demora pode prejudicar o candidato, apesar de potencialmente levá-lo ao segundo turno.
A aparente contradição desta última frase tem que ser vista sob uma óptica um tanto mais pragmática. E tem eco nas ruas e nas figuras de poder que lideram a corrida desde a largada.
Peguemos os perfis de Lula, Bolsonaro e Ciro. Em comum aos três existe a postura absolutamente firme de suas posições. São resolutos, políticos de fala firme (mesmo que espalhafatosas e falaciosas), com projeto de poder definido (sem alusão de qualidade ao que propõem). Esta veemência, quase impositora, é o que derruba, por exemplo, Marina Silva e seu discurso de voz bruxuliante.
O PT pecou ao demorar a investir com capacidade total em Fernando Haddad. E a decisão fazia sentido estrategicamente: Lula era o líder disparado nas pesquisas e o objetivo era postergar sua pseudo-candidatura facilitando a transferência de votos a Haddad.
Só que ao escantear Haddad por tanto tempo, o PT transformou o ex-Prefeito de São Paulo numa figura fraca, sem poder. Sanitizado, Haddad sequer se aproxima de Lula em oratória. (Hoje, no Brasil, ninguém o faz sombra neste quesito.) A questão é o que é esperado pelos eleitores. E torno a bater na tecla da veemência, da contundência, inexistentes em Haddad – pelo menos até então.
Com isso, o PT criou um círculo vicioso. Ou seja: Lula era grande demais para ser abandonado por um Haddad fraco demais, que é fraco demais justamente por se fortalecer demais a imagem de Lula. Caberia ao PT, num exercício de alinhamento e aproximação ao “dono” do partido, atendendo aos apelos da população em geral, anabolizar a figura de Haddad. Nada de vice-presidente sob seu nome. Fazia-se necessário construir um político com pés plantados, olhar centrado e fala firme. Ao contrário, lograram forjar alguém que aparente ter que pedir licença em permissão ao chefe para absolutamente tudo.
Nas pesquisas, o que se vê é que Haddad ainda divide muitos dos votos à esquerda com Ciro, que aparece em sua frente com seu coronelismo de soluções simplórias e populistas, e com Marina, que derrete como a via do meio-à-esquerda. Comparativamente, cresce de maneira natural por não mais haver o nome de Lula nas opções de perguntas estimuladas. Mas ainda está muito longe de seu piso.
E o piso de Haddad inclui muitos dos votos “sem norte” de Lula, gente que migrou para branco/ nulo/ indeciso, além de mais um quinhão de Marina, e o quanto puder abocanhar de Ciro. Quão mais conhecido, mais votos terá.
Fato é que Haddad já deveria estar bem mais à frente de onde se encontra. Assim como Alckmin, demorou para entrar no jogo. Por definição do próprio partido, que parece lutar arduamente para trocar seu enfadonho primeiro escalão pelo sangue novo da sigla. Esta indefinição petista, tocando violino com o Titanic afundando, sem apoio integral da militância, é o que aniquilou as chances de Haddad no pleito de 2016, quando almejava a reeleição à Prefeitura da maior cidade do país.
A disputa deste 2018 está claramente bifurcada. Foca-se no primeiro turno, depois vê-se o que se faz no segundo. Mas na medida em que as peças se movimentam num tabuleiro mais definido, o primeiro turno é, também, o segundo. E assim como Haddad deve crescer nas intenções de voto, se aproximando do piso do PT, é de imaginar, por lógica, que cresça também nas intenções de voto em cenários de segundo turno. Se neste último está hoje tecnicamente empatado com Bolsonaro, tende a alcançar patamares similares aos de outros candidatos, abrindo frente contra o ex-Capitão.
Assim, Haddad é favorito a subir ao segundo turno contra Bolsonaro. Mas, em eleições tão pautadas pela imprevisibilidade e pela incompetência, tudo pode acontecer. Em se considerando o que hoje temos, seria um confronto entre a continuidade de uma política falida contra o retrocesso gigantesco do flerte com o autoritarismo. As definições de “votar no menos pior” foram atualizadas.
(Aliás, em breve, assistiremos à propagação à enésima potência do discurso mendicante do voto útil. Né, Alckmin? Aguardem.)