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_Entrevista: Flávio Dino

_Entrevista: Flávio Dino

Flávio Dino,

No dia 2 de setembro de 2019, ocorreu em São Paulo um encontro que deu início ao Direitos Já! Fórum pela Democracia. Junto com o colega Victor Saavedra, da Carta Maior, entrevistei Flávio Dino, governador do Maranhão.

***

Victor Saavedra: Governador, como o senhor vê essa união de todas essas ideologias e visões políticas diferentes neste movimento suprapartidário de defesa da democracia contra quem o considera o pior governador do país?

Flávio Dino: Quando um movimento tão amplo e tão representativo desse se constitui, você corresponde não apenas a desejos individuais dos seus integrantes, mas sobretudo a uma necessidade objetiva histórica. De fato, há um conjunto de retrocessos, agressões, violações a direitos, que ferem um processo de conquistas históricas fundamentais atinentes à reconstrução da democracia no Brasil e à afirmação do conjunto de direitos contidos na Constituição.

Na medida em que esse edifício democrático está sendo ameaçado por conta dessa hegemonia transitória da política brasileira, se produz, felizmente, um movimento como esse, que reúne dois aspectos muito importantes. O primeiro deles é a força e representatividade e o outro é a amplitude, ser um movimento plural.

Eu realmente fiquei positivamente impressionado com a quantidade de lideranças de vários partidos, mas também de entidades sociais que estiveram diretamente presentes ou enviaram depoimentos, de modo que eu acho que é um movimento fundamental pra nos ajudar a proteger direitos e sobretudo defender uma perspectiva social para o Brasil em que a recessão e o desemprego sejam pautados como problemas nacionais e que todos trabalhem para sua superação.

Gabriel Galo: Governador, ao mesmo tempo há muitas dúvidas sobre a continuidade desse tipo de aliança. Nas últimas eleições já houve esse debate, de conversas que eram feitas e e alianças que pensavam num bem maior, seja para o Brasil, seja regionalmente, mas elas caíam por terra por conta de priorização de bandeira partidária, de manutenção de uma certa hegemonia dentro doo debate político. Esse movimento vem um pouco pra tentar romper com esse ciclo e tentar trazer uma nova mensagem de que agora efetivamente vai se parar para conversar sobre um movimento suprapartidário que não vai dar vez ou voz a este tipo de embate interno?

FD: Em primeiro lugar eu acho que as derrotas ensinam muito. Esse processo recente que o Brasil viveu, em que uma série de batalhas que o campo popular, campo democrático, campo nacional travou e, infelizmente, perdeu, serve, a meu ver, de estímulo para que todos participem de um movimento com essa feição.

Segundo lugar, acho que esse movimento Direitos Já! Tem uma virtude que em outros movimentos não se verificou. Ele tem uma direção e uma coordenação autenticamente suprapartidária, e isso é vital. Isso permite o estabelecimento de um pacto de lealdades por intermédio das várias lideranças que aqui compareceram, e que é vital para que ele possa prosseguir.

Independentemente de amanhã isso se espelhar ou não em candidaturas unificadas, o mais importante é a discussão, na minha avaliação, de um programa em comum, de um conjunto de teses e propostas que serão defendidas por todos. E esse foi o sentido da intervenção que eu fiz aqui nessa noite, buscando justamente  a construção dessa unidade programática.

Flávio Dino

GG: Você acabou de comentar de conteúdos a serem desenvolvidos, propostas e ideias, e isso foi sempre muito debatido nos últimos anos no Brasil, da falta de um plano de país, de um projeto estruturado de nação. Essa é a ideia também deste movimento, de que seja gerado um documento, um conjunto de propostas para serem perseguidas não somente pelo movimento, mas também por todas as outras instituições que podem porventura embarcar nesse mesmo ideal de defesa da democracia?

FD: A narrativa sobre o passado brasileiro, que nós compartilhamos em comum, não é suficiente. Por isso precisamos celebrar, não há dúvida, a memória de conquistas pretéritas de lutas, de lideranças que foram decisivas na vida brasileira, pra reconquista da democracia, pra promulgação da Constituição mais avançada que o Brasil já teve, porém é preciso, ao mesmo tempo, voltar nosso olhar pra uma dimensão prospectiva. O que nós podemos fazer em termos de atualização programática, de referências  políticas,  que  sejam capazes novamente de conquistar e seduzir largas parcelas da população que, nesse momento, estão dominadas pela desesperança. São segmentos sociais amplos que não têm uma participação política orgânica, e que nesse momento estão descrentes, desacreditadas de tudo.

Então, acho que o evento foi forte também nesse sentido, da compreensão de que nós não nos bastamos. É preciso, sobretudo, reconectar o mundo político e institucional, neste caso, o nosso campo em particular, ao sentimento mais profundo do povo, sobretudo os mais simples e humildes que estão sofrendo tanto. Então acho que a pauta, os trilhos que nós estabelecemos aqui nessa noite foram bastante positivos, de modo que eu acredito que o movimento vai prosseguir, com tarefas que são suas e somente suas. Evidente que isso não exclui a articulação partidária e institucional, mas é um caminho para que até o ambiente partidário possa se desenvolver em faces mais produtivas, mais eficazes, na medida em que não seja puramente um jogo partidário, mas sim uma perspectiva política mais ampla.

VS: Governador, nós temos um presidente que é notoriamente agressivo. Quando se vê atacado, ele responde. Como o senhor acredita que seria a resposta do presidente a um movimento suprapartidário que pretende defender direitos que ele tem atacado através das suas medidas provisórias, através de seus projetos e através até da indicação de seu filho pra uma embaixada?

FD: Lamentavelmente, o atual presidente da República tem se mantido fiel a um modelo extremista, sectário, e portanto agressivo, em relação a valores fundamentais, a exemplo do pluralismo. Por isso eu imagino que, infelizmente, ele vê a tudo e a todos como ameaças, e por isso ele reage tão agressivamente. Nós, naturalmente, não podemos nos intimidar e nem renunciar ao exercício do papel que nos cabe: o papel de oposição, nos termos da Constituição e da lei, e com isso ajudar o Brasil. O nosso movimento político, no sentido amplo, partidário, é um movimento patriótico, e por ter essa característica, não podemos retroceder e nem renunciar àquilo que nos cabe, que é defender essa perspectiva de desenvolvimento com justiça social que nós apresentamos aqui nessa noite.


Artigo na edição #1 da Papo de Galo_ revista, em 05 de junho de 2020.

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