Em abril de 1986, uma foto da família foi registrada na porta e nas janelas da sala de visitas da casa de minha avó no Santo Antônio. Nela, eu, meu irmão e duas primas sentados no batente da porta de entrada, sorrindo. Quando houveram de sacar esta imagem, ao observá-la, certamente pensaram: trata-se, pois, de uma foto histórica.
Passados mais de 30 anos, tenho a imagem nítida em minha cabeça, não do momento, mas do registro em si, um parado do tempo da infância não tão querida que os anos não trarão mais. Está na captura da imagem além do alcance, perene no tempo, o sublime prazer da arte da fotografia.
A receita do dia para entreter crianças por horas no calor durante as férias seguiu premissas básicas de diversão com o mínimo necessário. Ingredientes foram: um barranco, uma lona estirada, água corrente que vem do rio que ali passa jorrando da mangueira sem parar e um adulto no espírito,
Deslizaram por horas a fio. De frente e de costas, sentados e deitados, cabeça primeiro ou pés primeiro. Subiam correndo em tempo de se acomodar no topo por sobre a pequena correnteza que se formava para escorregar pensando que quanto mais longe, melhor. Como é bom ser criança!
“Junta os 4! Vamos tirar uma foto!”
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Hoje na condição de pai, olho para a foto de meus filhos e seus amigos e vejo o quanto a gente pode se realizar pelos nossos pequenos. Quando vi pela primeira vez as tais fotografias (um cheiro, Caetano!), vi o futuro, avancei mais 30 anos. Visualizei meus filhos com a mesma sensação que tenho com a foto nos batentes da Rua Direita. Trata-se de um tempo congelado de uma época.
Daqui a 30 anos olharão para estas imagens com carinho e com a segurança de que foram felizes. Estarão lá as fotografias da eternidade da infância esbanjada em felicidade. Tornar-se-ão, quem sabe?, amigos de uma vida, dividirão confissões e projetos. Conversarão, lá no futuro, talvez não sobre o dia em si, mas como este dia eternizado nas fotografias deve ter sido divertido. E foi. Ah!, como foi!
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