Há imagens que todos conhecem, uma vez que a história se encarrega de condensar suas narrativas simbolizadas em únicos cliques, numa única foto. A garota fugindo nua do napalm na Guerra do Vietnã em 1972; o beijo ardente do soldado que voltou da Segunda Guerra em plena Times Square em Nova Iorque em 1945, símbolo da esperança de novos tempos; Che Guevara e a estampa favorita de camisetas de gente desinformada; o chinês desafiando os tanques do governo em 1989. Como não afirmar que o garoto morto na praia resume o drama dos refugiados sírios, por exemplo?
A fotografia tem este poder.
No mundo do esporte, há fartura. Muhammad Ali gritando sobre um nocauteado Sonny Liston é icônica; a de Usain Bolt olhando para o lado sorrindo numa final de Olimpíada representa sua superioridade; a de Michael Jordan subindo para enterrar da linha de lance livre virou sua marca registrada. Falando de Brasil, inesquecíveis são a imagem do garoto chorando a derrota de 82 no Sarriá para Itália, capa do Jornal da Tarde, assim como também é a foto de Pelé jogando pela seleção brasileira no Maracanã, com o suor no peito em forma de coração.
A foto que para mim é a foto deste 2017 une o esporte e o que ele representa para um povo.
No dia 10 de outubro de 2017, o Panamá assegurou classificação inédita para a Copa do Mundo de 2018. Ficou de fora a rica seleção dos Estados Unidos, o que trouxe ainda mais simbolismo ao feito panamenho.
As ruas foram tomadas pela população em festa. A comemoração era tão efusiva que o Presidente Juan Carlos Varela declarou que o dia seguinte seria de festa nacional, liberando toda a população de deveres em plena quinta-feira. Trabalhadores não precisariam labutar; escolas estariam fechadas para que todo o país celebrasse em família.
O futebol emana do povo. Seu significado está nos meninos que brincam de bola na rua e sonham com a glória aos 45 do segundo tempo, num gol redentor que garante o título e um lugar na história. O movimento de elitização do esporte vai contra os garotos que marcam as traves com chinelos, tijolos, pedras ou o que der, contra aqueles que armam a chacota pelo drible sofrido, contra aqueles que só têm o sonho como arma.
A elitização do futebol joga contra milagres como este do Panamá. Do lado de cá lidamos com a classificação certa e garantida a todas as Copas. Esquecemos dos casos de exceções, que provocam catarse em nações que pouco ou nunca lá estiveram.
Na foto, o capitão da seleção panamenha, sem camisa, abraça um torcedor, também sem camisa que invadiu o gramado. Peitos abertos! O policial, autoridade da ordem, então, em vez de afastar o torcedor e devolvê-lo a seu lugar de direito, abandona o dever tosco, já que ameaça à ordem e à integridade não havia, e se une aos dois num abraço com direito a sorriso. Naquele momento, ele não era policial; era, assim como o elemento do meio, mais um em êxtase, cheio de alegria pelo seu país.
Se esquecemos para que serve uma Copa do Mundo, esta foto capta a lembrança que não podemos deixar sumir. O futebol une jogadores, autoridades, gente comum e de todo tipo, transformando-nos todos em TORCEDORES, muito além de deveres e de direitos.
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