Eu acredito em pequenas atitudes para ilustrar erros mais graves. É no pequeno poder que o lado negro das pessoas se aflora. Nos pequenos arroubos de autoridade.
Tento fazer com que meu filho goste de política. E como fazer com que uma criança de 5 anos goste deste assunto tão maçante? Na minha visão, é necessário algo lúdico, mas que desperte na cabeça dele uma imagem positiva.
E o que poderia se assemelhar a uma brincadeira se não o próprio ato de votar?
Saímos em outubro de 2014 para votar no primeiro turno para presidente. Eu e meu filho a tiracolo, de 3 anos. Ele estava empolgadíssimo. A gente ia votar, entendeu? Que legal! Gente na rua, parecia carnaval.
Chego rapidamente à minha sessão, vazia, como se faz acontecer desde que as urnas se tornaram eletrônicas.
Apresento meu documento, guardo celular. Um deles encontra o meu papel. Assino. Vou ao lado, uma outra pessoa digita uns códigos na maquininha para liberar a urna.
É agora!
Só que não.
– Senhor, ele não pode entrar com você.
– Oi?
– Seu filho?
– Isso.
– Então, ele não pode entrar com o senhor.
– Como assim? Por quê?
– Não pode, senhor.
Cumpridor que sou, obedeci. A cara de decepção do meu filho era impressionante.
Neste momento, não existe argumento que justifique. Não existe lógica. Não existe motivo. Não existe um fiapo de absolutamente nada que se proponha a justificar a atitude daquela pessoa. Uma coisa é você entrar com um adulto que poderá votar (ou cobrar voto). Agora, em que uma criança de 3 anos se encaixa neste perfil?
Me lembrou uma palestra do professor Clóvis, quando ele diz que a vida tem uma capacidade gigantesca de tirar nosso tesão. Se isso já é verdade para quem é crescido, imagine para que é criança.
Aquele burocrata ensinou meu filho que ele tem que ficar alienado da política. Entendeu a mensagem? Acha que eu exagero?
O que você ouve ou fala com relação à entrada de uma criança no mundo da política? Que é coisa de adulto? Que ainda se é muito novo pra saber das coisas? Que nem votar ainda pode e já quer ter opinião? Que o país não tem mais jeito? Ou que tal quando você ri de uma percepção imatura? A humilhação é destruidora.
Criança cresce na base do “fique quieto, porque não é de sua conta”.
Daí você olha para o número de abstenções. Some a ele o número de brancos e nulos. Não é de agora: é recorrente. Desde o tempo em que sequer sonhar com política era permitido.
Repetimos o mesmo papel. Ora, faz total sentido! Não é levar uma urna na escola a cada ciclo olímpico que resolve.
O que não faz é ainda não termos nos dado conta que mudar este cenário começa em casa, com cada um de nós.
O meu papel como pai é mostrar que exercer o voto é fundamental. Até o barulhinho depois de encerrada a votação é legal. Em qualquer eleição, estando meu filho e minha filha comigo, vamos votar juntos. Sou persistente. Quando forem mais velhos, meu papel passa ser o de ensinar a pensar, a pesar opiniões, a discutir ideias, a escolher candidatos. De exemplificar o que significa democracia, suas responsabilidades e consequências.
Porque política se faz de cedo, sim, senhor.