“I try to buy stock in businesses that are so wonderful that an idiot can run them. Because sooner or later, one will.”
Quem disse isso foi Warren Buffett, guru dos investimentos nos EUA. Sua mensagem é simples: se o negócio é bom, sobrevive a um idiota liderando. E, tenham certeza, chegará o dia em que um idiota tomará conta do negócio.
Uma pergunta de um amigo colocou-me a pensar: o que é mais importante, a saída com impeachment da Dilma ou o fim da imunidade parlamentar? Vou mais além, não somente a imunidade parlamentar, mas que tal repensar todo o modelo político nacional?
As manifestações de 15 de março se aproximam. A expectativa é grande, mas aposto que nada haverá de efeito prático. Mas entende-se o pleito pela saída da Dilma. É midiático. É compensador, especialmente se houver qualquer chamuscado de resultado prático. Podemos bater no peito e dizer que “ela saiu porque o povo mostrou o seu descontentamento”. O efeito pode ser severo, no entanto.
Neste cenário, o Congresso pode se fortalecer. Este mesmo que no meio da crise política generalizada se deu aumento salarial, aprovou pagamento de passagens para cônjuges, que negocia recursos de emendas parlamentares como se fossem moeda de Banco Imobiliário. Sambam em nossas caras, e ainda comemoram ter uma presidente tão ruim para desviar o foco.
Incomoda-me o fato de querermos uma pequena revolução sem ter ideia de qual o plano de estado. “Primeiro tiremos a corja”, gritam uns; outros retrucam “a culpa é do FHC”. Nada se avança, a não ser o sentimento fenomenal de “que porra é essa?” que nos invade.
Que país é esse, seu Millôr?
Prefiro focar em algo estruturante. Sairia Dilma, entraria Temer, e daqui, tremo e temo.
É como abandonar uma residência destruída e colocar uma manada de elefantes para tomar conta. “Tá tudo uma zona, vou fazer o que bem entender agora, qualquer coisa é lucro”, certamente vão pensar os novos donos do terreiro. Está e será. Mas aí, veja só, onde fica o discurso efetivamente edificante do ponto de vista civilizatório?
No meu entender, imunidade parlamentar não faz o menor sentido. Nenhum. Pelo contrário, uma vez servidor público eleito, as penas deveriam ser maiores. A responsabilidade é outra, presta-se contas à população. Anseio algo mais próximo a um conceito de sobressentença parlamentar.
E a Dilma? Bem, voltemos ao Buffett. Se a máquina estivesse azeitada, funcionando bem, as coisas continuariam andando. Até com tropeços, mas seguiriam. Mas o negócio Brasil tem problemas sérios em sua estrutura. A idiota que assume o posto não deveria ter tanta oportunidade de garantir problemas tão graves para o país. No mundo em que um país estivesse estruturado em seu governo, seria tão somente uma idiota passageira.
E continuaríamos a seguir em frente, não cavando o buraco e caminhando desconcertantemente rumo a ele fingindo que nada está acontecendo e apontando erros em vez de resolvê-los.