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A Igreja e o vai pra Cuba!

A Igreja e o vai pra Cuba!

A Igreja, em sua maior parte, virou propagadora de preconceitos e superficialidades que fariam Jesus não frequentar sua própria criação.

Jesus Cristo certamente não estaria presente nos sermões da igreja daqueles que se dizem propagadores de suas palavras e de seus ideais.

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Estudei durante muitos anos num colégio de freiras em Salvador, o Sacramentinas. Foram 6 anos tendo aulas de Religião na grade curricular, missas, eventos na Capela, senta, levanta, canta, senta, levanta de novo, sentado. Apesar do contato diário, a rotina não me fez católico, embora tenha me feito tolerante. Afinal, era preciso saber caminhar sem ser desprezado pelas freiras. No fim, elas me adoravam, pois eu era nerd o suficiente para que as notas estivessem tal qual Hosana, nas alturas.

A questão é que muito do que é dito me soa numa realidade que parece presa num mundo de dois mil atrás, quando Raul Seixas já tinha oito mil de vida, mas ele sabia muito mais. Num casamento de uma amiga, o padre afirmou que o papel da mulher é concordar com as decisões do homem e se submeter aos seus desejos. Pense… Noutro momento, estava num curso para padrinhos. Programação de um sábado inteiro. Vários casais no line up! Todos os primeiros eram bastante razoáveis. Mais jovens, cabeça mais aberta, mais dinâmicos. Eu gostava da retórica e da abordagem. Até que chegou um último casal. O último que veio para tacar fogo em tudo. De mais idade, distribuíram atrocidades, maus julgamentos, preconceitos.

Volto à igreja sempre que há um casamento. E eventualmente, batizados. Pois estive em um há algumas semanas. Fui pego de calças curtas: não sacramentaram que missa haveria. E houve.

O ato de discursar em público tem algumas premissas básicas. A mais importante é conhecer sua audiência. Fale o que querem ouvir. E o homem de batina branca falou exatamente o que a gente de nobre bairro na região metropolitana queria ouvir. Superficialidades e preconceitos, distanciando-a dos outros que não merecem porque ricos não são.

Em seu sermão, o padre começa a traçar caminhos que rebatem em conceitos econômicos. Ou melhor, preconceitos econômicos. Faz o mesmo sobre política. Com a leveza de um mamute faminto numa loja de cristais, discursa sobre os adventos que levam um povo a aceitar políticos tão sujos. Diz ele que temos que nos envolver mais com a política! Que devemos escolher melhor nossos governantes, participar ativamente da construção de políticas públicas. Concordo!

Esta primeira fala me lembra os preconceituosos horrendos que soltam um “não que eu seja preconceituoso, mas…”. Porque, infelizmente, sempre vem um “mas”. E o padre soltou seu mas sem pestanejar.

Ao mesmo tempo que dizia que tínhamos que nos envolver mais na política, ele afirmou que lutar contra a economia é errado. Para soltar a frase símbolo da ignorância, da intolerância, do preconceito, mas que soa tão agradável a tantos porque assim são: “Não tá satisfeito? Vai pra Cuba! Vai pra Coréia do Norte!”

Assim fica sacramentado que não podemos lutar por aqui que acreditamos. Exigir melhores condições? Pfffff. Estudar alternativas para construir um novo conceito econômico? Comunista.

Fica, então, escrito e carimbado em papel passado, que a gente deve se envolver em política, mas sem querer mudar nada. Estudar para ser mais um, respeitando as normas. Mudar a política sem mudar nada.

Palavras proferidas na casa de um dos maiores contraventores da história. Alguém que foi morto pelas suas crenças. Alguém que não se colocava acima de ninguém, pelo contrário, via-se igual, livre de preconceitos. Alguém que certamente não estaria presente no sermão da igreja daqueles que se dizem propagadores de suas palavras e de seus ideais.

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