Corre a história de que um distinto veranista de Mutá, certa feita, levou seu pai para passar férias na vila. Com casa quase na praia, lá foram eles. Acontece que o velho já tinha sintomas avançados de Alzheimer, coitado. Filtro para o que dizia já não havia.
Numa dessas tardes de verão, passava Jane, a enfermeira da cidade, em frente à casa de veraneio. Seu rebolado pareceu irresistível ao senhor que da janela tudo via, e soltou-lhe gracejos picantes. No dia seguinte, igual. Mais um dia, e outro.
Devia haver, ali, algo de fetiche também. Afinal, tem essa onda aí de uniforme de enfermeira e pensamentos vadios… Ou então ele lançava suas injúrias a quem passasse, e vai que alguém se interessa?
Houve quem.
Dado momento, o desejoso ancião prometeu pagar pelo serviço. Seria a alegria da vida do velho, e a chance de uns trocados a mais para a enfermeira, que já não jovem, nem tão bela, passou a se sentir mais mulher, por assim dizer. Coisa danada esse ego.
Noutro dia, Jane foi ter com o senhor.
– Paga mesmo?
– Pago!
E ela, na promessa de pagamento do velho, pagou-lhe uma lambuzada que apenas posso assumir ter sido assunto na cabeça dele em seus momentos de lucidez.
Evitarei descrições gráficas, porque, já senhores de certa idade que eram, não quero causar comoções nem pesadelos.
Como ele não tinha dinheiro em mão, pediu para que ela passasse no dia seguinte para recolher sua recompensa.
Não era muito esperta, a Jane, no entanto.
Na conta de dois mais dois, colocou cinco.
Não levou em consideração, a engolidora, que o velho sofria de uma doença que afetava seriamente sua memória. No que bateu na porta do homem, como combinado, a exigir seu pagamento, de nada o velho lembrava.
Ora, pois!
Ultrajada pelo pagamento negado e pela chupada já esquecida, tocou foi a contar, em praça pública e em alto volume, que demandava seus direitos como prestadora de serviços!
– Arre, véio safado! Onde já se viu? Ajoelhei, tem que pagar!
O escândalo se deu na cidade. Logo Dona Jane?
Não se sabe ao certo se ela recebeu seu pagamento ou não pelas mãos do filho. O que se sabe, e isto já é indicativo suficiente, é que a enfermeira não mais bateu na porta deles.
O velho nunca mais foi visto na vila, e o filho vendeu a casa, para nunca mais pisar os pés por lá.
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