No último sábado, dia 24 de março, o Partido dos Trabalhadores (PT) escolheu, na primeira prévia paulista de sua história, seu candidato ao Governo do Estado de São Paulo. Com cerca de 80% dos votos dos delegados estaduais do partido, Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e atual presidente regional da sigla, foi aclamado pré-candidato, contando com apoio de Lula e Haddad.
O currículo de Marinho é pautado pela sua luta atuação no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. Foi seguidas vezes eleito para cargos executivos no sindicato e teve atuação de destaque nas negociações contra demissões em massa em na virada do século. Sua proximidade com Lula o levou a assumir, em 2005, o Ministério do Trabalho. Em 2007 assumiu a cadeira de Ministro da Previdência Social, posto que deixou em 2008 para concorrer e se eleger à prefeitura de São Bernardo do Campo, com mandatos cumpridos entre 2009 e 2016.
Apesar de relativamente desconhecido do grande público, o agora pré-candidato também foi foco de polêmicas. Em 2017, o Ministério Público paulista ofereceu denúncia contra Marinho e mais 15 aliados por desvios de verba do Museu do Trabalhador e do Trabalho. Já em 2010, uma escola construída nos pés de um barranco na cidade virou alvo do CQC, da TV Bandeirantes, por se tratar de construção irregular com riscos de deslizamentos. Danilo Gentili, então repórter do programa, foi agredido pela Guarda Municipal e Marinho, prefeito em exercício, preferiu destilar ironias a tratar do problema.
A questão da escolha de Marinho na corrida ao Palácio dos Bandeirantes, no entanto, deve ser encarada, de um lado, pelo discurso fabricado de retorno do PT a suas origens; por outro lado, pela total dissociação com o apelo popular.
As graves e comprovadas acusações de corrupção abalaram o PT e arranharam de maneira inquestionável a imagem do partido. Em 2014, um encontro nacional em Fortaleza culminou no que foi chamado de “a maior mudança de rumo do partido desde 2001”. Falou-se fortemente do retorno do PT aos ideias que pautaram a fundação do partido, como a luta pelos direitos dos trabalhadores. No que a indicação de Luiz Marinho está totalmente alinhada com este viés. Sindicalista de carreira, Luiz Marinho fez parte dos primórdios do partido.
Acontece que o caminho escolhido pelo partido vai de encontro aos anseios do paulista. O Governo do Estado é comandado desde 1995 pelo PSDB, com 6 mandatos consecutivos, precedido por outros 3 mandatos do PMDB. O domínio do partido no estado fez surgir a alcunha do tucanistão, para representar, especialmente, a mentalidade do interior paulista. Trata-se de uma população conservadora, religiosa, com viés empreendedor e forte restrição à esquerda, num total repúdio à sua vertente mais histriônica e ativa, caros que são ao que causa estabilidade.
O grande embate, e que afasta Marinho deste eleitorado fundamental para uma eleição, é justamente o que mais provoca angústia: os sindicatos. Segundo o Datafolha, cresceu a opinião antissindical: entre 2014 e 2017, passou de 50% para 58% a avaliação de que “os sindicatos servem mais para fazer política do que defender os trabalhadores””. Recentemente, foi instituído o fim da contribuição sindical obrigatória, fato que alegrou empresários e trabalhadores e causou forte impacto nas entidades sindicais, que se veem envoltas na necessidade de buscar aumentos nos valores das taxas de contribuição para compensar o baque financeiro.
É no meio deste cenário desfavorável que o nome de Luiz Marinho é lançado. Numa analogia de inabilidade política, a mesma dificuldade que o PSDB possui de dialogar com o Norte/Nordeste, o PT tem para conversar com o interior do estado de São Paulo. O PT, na tentativa de retomar a pauta partidária ao que fundou a instituição, resgata justamente o elemento que pode causar ainda maior rejeição ao nome de seu candidato. Em vez de olhar para trás para sedimentar o futuro, retrocede e se esconde dentro de sua bolha, falando apenas aos seus e afastando todos os de que efetivamente precisa para vencer uma eleição.
Esta postura significa duas coisas: que no PT não há renovação de quadro, cabendo unicamente a Fernando Haddad, contestado interna e externamente ex-prefeito de São Paulo, liderar o novo fronte; e que o desafio de Marinho nestas eleições terá magnitudes hercúleas para que sua campanha seja significativa em cenário totalmente desfavorável e recoloque o partido no segundo turno, o que não acontece desde 2002, quando, inclusive, era vice na chapa de José Genoíno derrotada por Geraldo Alckmin.
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