Se erra em quase tudo o que se propõe a fazer, Temer acerta neste quesito. Henrique Meirelles é a mão (não tão) invisível que comanda o leme em Brasília.
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Quando Lula assumiu a Presidência da República em 2003, muitos tinham uma colônia de pulgas atrás da orelha. Havia, apesar da Carta aos Brasileiros do ano anterior, muitas dúvidas sobre a capacidade de execução do governo petista. Estas dúvidas orbitavam, principalmente, em dois aspectos: a articulação política necessária para garantir a governabilidade e a garantia de bom funcionamento do mercado financeiro.
Para comandar a equipe de governo, Lula levou Zé Dirceu para negociar a construção da maior base aliada da história, com suas ramificações sujas do mensalão. Convidou, também, Henrique Meirelles para liderar a equipe econômica. Palocci transitava entre os dois mundos garantindo que todos falassem a mesma língua.
O que se viu a partir dali, do ponto de vista financeiro, foi uma verdadeira revolução nas contas públicas nacionais. Meirelles comandou uma austera redução da taxa de juros nacional, a Selic. Implementou política de aumento de reservas internacionais, culminando com a inversão da dívida externa (reservas maiores que a dívida). Acalmou os ânimos agitados do mercado especulador e assegurou a Lula a tranquilidade econômica para governar.
Neste mal amanhado governo Temer à frente de nosso sempre contínuo projeto de nação, Meirelles ratifica a frase de James Carville, estrategista de campanha de Bill Clinton à Casa Branca em 1992: “É a economia, estúpido.”
Vê-se sinais de recuperação econômica. Muitos indicadores melhoraram, outros deixaram de piorar – e neste segundo caso temos, sim, que respirar um pouco mais aliviados dada a queda vertiginosa dos últimos anos.
A receita de Meirelles possui premissas simples, que casam com o que já deu certo antes:
- Queda de juros
- Aumento de reservas internacionais
- Controle de gastos públicos
- Queda da inflação
- Garantia de que contratos serão respeitados
- Maior liberdade econômica (menos intervencionismo estatal)
Alguns afirmam, e não estão errados, que o que mantém Temer e sua quase total impopularidade, aliada a comprovações de malfeitos, ocupando o principal cargo do executivo nacional é a economia. Adotemos o poder da síntese, um tanto chula, mas absolutamente verdadeira, do que proferiu Carville: é a economia, estúpido.
Neste sentido, poderia o presidente ser Temer, Maia, Calheiros, Fufuca ou Tiririca. Quem hoje comanda a embarcação para que não naufraguemos ao caos completo é Henrique Meirelles. Nele está o incentivo para a rua estar calada, para o mercado voltar a investir – embora ainda não em produção, o que mantém os índices de crescimento do PIB perto de estáveis. E, especialmente, é o porto seguro do presidente mais mal avaliado de todos os tempos.
Se erra em quase tudo o que se propõe a fazer, Temer acerta neste quesito. Indicar Meirelles para comandar a economia nacional parece ser, hoje, a única alternativa para qualquer postulante ao cargo. Aprendemos com sangue que métodos alternativos propostos por segundos escalões provocam um efeito dominó que derruba até presidente. Meirelles é a mão (não tão) invisível que comanda o leme em Brasília.
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Crédito da foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
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