Ah, lembro de uma carta sua, você deveria ter uns 10 anos de idade, 1990, redação da escola sobre “o que você quer ser quando crescer” e você, singelamente, assim respondeu (tachado = rasura):
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A nova era de recuperação econômica e o mercado de capitais no Brasil
Avesso a tudo que me cerca, e digo isso após minuciosa análise das ditas pretensões de meus companheiros de classe (digo ditas, afinal, quem aos 8 anos de idade pode ter certeza do que quer? Além de mim?), percebi que o senso comum em nada me atrai. Jogador de futebol, bombeiro, astronauta (será que algum dia teremos um astronauta brasileiro no espaço?), qual o sentido de tudo isso? Não, definitivamente não me atrai.
Sinto-me atraído, portanto, por aquilo que é capaz de mobilizar pessoas, seja por interferência, por força ou por influência. Aqui, cabem as mais diferentes interpretações, relações indiretas ou diretas? Liderar pessoas, instituições ou países? Dei uma pausa no meu Atari vespertino para debater com quem mais poderia me ajudar nesse momento: o meu querido amigo, o Senhor Cara-de-Batata.
Busquei em minha Barsa informações sobre os mais diferentes setores nos quais poderia trabalhar e que via como grandes oportunidades: biotecnologia, administrador de uma grande empresa, político, advogado ou algo em economia? Biotecnologia se apresenta como uma das promessas de evoluções tecnológica das próximas décadas. Analisemos da seguinte maneira: mal consigo explicar a constituição de uma árvore – raiz, caule, tronco, o quê mais? – como poderei me interessar pelo assunto no futuro? Apesar de atraente do ponto-de-vista potencial, em nada me anima; sigamos para um administrador, um líder, um Mansur e suas belas lojas! Belo desafio financeiro, mas e o intelectual? Além disso, anseio que meu alcance seja mundial, mas dependeria de uma abertura econômica de nosso país aliado a um cenário macro-econômico de abundância de recursos, mas de acordo com pesquisa, minhas chances cairiam em me tornar um gerente de uma unidade de trabalho. Advogado soa perfeito! Falar em público (ou não, tenho assistido muito à primeira temporada do Law & Order), discutir idéias em fóruns, fazer-me conhecido e respeitado, mas e o poder?
No que chego ao último ponto: economia. Claramente será a líder política no mundo, o tema carro-chefe de todas as esferas sociais. Com o fim dos pacotes econômicos, estamos em cenário de possível abertura econômica internacional, o que irá finalmente colocar o Brasil em um patamar de destaque, grande parte devido a suas dimensões continentais e diversidade de portfólio. Alia-se à abundância de crédito, e voilá!, temos um cenário multinacional perfeito. E eu quero estar dentro dessa máquina a controlar o mundo! Eu não farei parte do sistema; eu SEREI o sistema!
Poderei começar por baixo. Talvez um concurso público de algum órgão regulador e passo-a-passo vou subindo. Rumo ao topo do mundo!
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A redação teve que ser interrompida, pois sua mãe te chamava para o jantar e, caso chegasse atrasado poderia ficar sem sobremesa. E naquela noite tinha pudim!
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