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Os 9 níveis de corrupção no Brasil

Os 9 níveis de corrupção no Brasil

São tantos os casos de corrupção exibidos no Brasil nos últimos anos, que consegui chegar a um modelo que resume os níveis de roubalheira praticados por nossos (in) dignos representantes em Brasília. Honrando os círculos do inferno de Dante, apresento as 9 etapas, desde ladrão de galinhas a senhor supremo do desvio do erário público. Você poderá, depois desta descrição completa e minuciosa, brincar em casa de ligar o próximo escândalo a uma das fases. E nem vai precisar esperar tanto: hoje ainda, mais tardar amanhã, pulula novidade cleptogovernamental.

Nível “vai, nem é tanto assim” ou “quem sou eu perto dos outros?”

Círculo 1: o restaureco

Hora de relembrar o sorumbático representante do baixo clero que comandou a Câmara dos Deputados durante o governo Lula, Severino Cavalcanti. Severino caiu porque pediu propina para o restaurante do Congresso, sendo derrubado por conta da bagatela de trinta mil reais. TRINTA MIL. É ou não é de dar pena de quem pensa tão pequeno?

Círculo 2: a cueca

Desviar grandes valores exige uma certa criatividade para transportar daqui a ali. Assim, relembremos do emblemático caso dos dólares na cueca, que dá tanto pano para manga e tantos trocadilhos maravilhosos. Repare na baixeza da estratégia, dinheiro em contato com as partes. Ou então faça sentido, afinal, é tudo na base da sacanagem.

Círculo 3: a maleta da pizza

O deputado federal Rocha Loures foi alçado ao estrelato da corrupção nacional em maio deste ano, enquanto transportava lépido e fagueiro uma maleta com centenas de milhares de reais daqui a ali. Flagrado por câmeras, de segurança, casa caiu. Realmente, a logística de dinheiro vivo é algo complexo de se fazer.

Nível “rapaz, que dinheirama é essa?” ou “essa conta não é minha”

Círculo 4: bens e baús

Ah, Geddel… Demos a mão à capacidade do baiano, este povo versado na arte de maracutaia política. Foi Ministro de um monte de governo, até FHC! Pulou de partido, e fez riqueza omitindo os valores de bens comprados no mercado paralelo. Este imóvel de luxo? Que milhão ou mais que nada, vale cem mil, com troco. Tudo seguia relativamente bem para ele até que aquela dinheirama toda em caixas de papelão e malas foi descoberta em um de seus imóveis. Que vacilo, Geddel! Uma vez mais, me compadeço da incapacidade logística deste povo.

Círculo 5: mata todo mundo

Aécio é flagrado pedindo dinheiro por fora para empresário que se beneficious de esquemas ilícitos de distribuição de dinheiro do BNDES para se transformar numa das maiores companhias do mundo. E o detalhe: pedia dinheiro por fora para pagar advogados de sua defesa contra processos de corrupção! Corrupção para limpar a barra da corrupção. É quase poético, talvez. Como cereja do bolo, ainda sugere que os envolvidos na entrega do dinheiro sejam mortos. Finesse.

Círculo 6: na Suíça, em nome de Jesus

Aqui está o nível preferido dos politicos brasileiros: remessa de dinheiro para a Suíça! Talvez o ar europeu faça bema o suado dinheirinho que é depositado sem tantas perguntas. E, dados os exemplos anteriores, que sagacidade no transporte! “Aqui é tudo online, meu amigo!”, gabam-se tantos. A ponte aérea Brasília-Suíça é entupida por simbólicos aviõezinhos do Sílvio Santos, notas substituídas por ordens de transferência. O problema é que existe uma trilha de papel que pode ser rastreada… Na ocasião de você ser descoberto, saque do coldre a estratégia ecumênica de Eduardo Cunha: foi tudo obtido EM NOME DE JESUS. Amém!

Nível “vamos tomar o país” ou “visão holística” ou “o escárnio dos intocáveis”

Círculo 7: over the hill

Aqui eu tenho que aplaudir. É um dos maiores exemplos de um trabalho de corrupção bem feito. Clap, clap, clap. Que orgulho! Vejamos a lógica. Digamos que você seja um Ministro, da Saúde, talvez. Digamos que na sua pasta haja uma proposta que altera significativamente as regras de mercado. No exercício meramente hipotético, imaginemos se tratar da lei de genéricos, que beneficiaria milhões de brasileiros. Digamos, também, que este hipotético Ministro esteja empenhado em aprovar esta hipotética lei. Que faz ele? Senta-se com grandes empresários que lucrariam fortunas com a nova lei e arremata: “eu aprovo, mas quero um percentual da empresa.” Ora! Tenha sua calma, porque no nome dele ele não seria bobo de colocar. Decide transferir a alguém próximo, alguém em quem possa confiar. Sua filha, talvez. E assim opera frequentemente. Sem dinheiro em transporte. Tudo aprovado pela CVM, Banco Central e o que mais valha.

Círculo 8: com Supremo, com tudo

Em algum momento o escárnio haveria de começar. E começa aqui no oitavo círculo, quando a corrupção nem precisa mais ser escondida. Afinal, que graça tem garantir tantos caraminguás sem poder tomar um vinho de cinquenta mil dólares n acara da sociedade? Não, não e não! Processos tão complexos e poderosos devem ser ostentados, com um funkeiro a seu carrão e cordões de ouro. Símbolo de status. Não há medo de ser descoberto, porque, por fim, livra-se com anuência do STF. “Um pacto nacional, com Supremo, com tudo.”

Círculo 9: pelo bem geral do partido

Ah, o que não se pode ser feito em nome de um bem maior, não é mesmo? Talvez aqui esteja a confusão dos que operam os bastidores podres de Brasília. Afinal, o bem maior a que se referem é do ponto de vista filosófico ou material? Afinal, o bem maior não poderia ser um apartamento maior? Um carro mais potente? Independentemente desta confusão, assumamos o preceito do bem maior para o povo! “Somos lindos e joiados!” gritam os representantes carregando na lapela o broche de estrelas vermelhas e sua base aliada. Para implantação de seu plano, envolvem estatais, fundos de pensão e bancos públicos. Um bilhão aqui, outro ali, mais um tanto acolá, tudo com um percentual garantido para a conta do partido. “É pelo bem geral da Nação”, argumentam, no que concordo. É realmente pelo bem geral, ou pelos bens gerais, da Nação que anseiam, tal qual abutres sobre a carcaça com a desculpa da necessidade de comer.

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