Eu gosto de futebol. Gosto muito, e este gosto vai além do esporte em si. Gosto de estórias, de narrativas bem contadas, de
grandes enredos, de reviravoltas inesperadas. Gosto de história, de estudar a construção de origens e o choque de eventos para entender como se chega ao presente. Gosto de sociologia, psicologia, filosofia, da representatividade do torcer, de capturar retrato da alma do torcedor. Gosto do balé plástico de um belo lance, dou risada do erro.
Acompanho o que aparece pela frente, mas o gatilho não é o futebol em si. Não sou desses que assiste a um jogo de campeonato qualquer porque está passando na TV. Sou fisgado pela assimilação, pelo reconhecimento daqueles que estão em campo como protagonistas de narrativas que me cativam.
O futebol me fisga pelo coração.
No meu trabalho como escritor, o futebol está presente de maneira significativa. Foi uma crônica sobre futebol que atraiu a atenção do gigantesco Paulo Leandro, jornalista e amigo ─pra minha sorte─, que me fez levado ao Correio da Bahia. Sobre futebol escrevi no HuffPost Brasil durante a Copa do Mundo Rússia 2018. Foi esta mesma Copa que rendeu o meu primeiro livro.
Estou colunista do Futebol S/A, que destrincha o futebol como negócio, mas sem deixar a paixão de lado.
Entrando na segunda semana de julho de 2020, hei de confessar: estão testando a minha paixão pelo futebol.
Mas quem?
Aqueles que eliminam a alma do esporte em nome de frios argumentos; que colocam o dinheiro acima de qualquer valor ético ou moral; que empurram o torcedor mais desfavorecido para longe, porque a capacidade financeira não atende à ambição que se fundamenta no separatismo; que empurram uma volta do esporte mesmo enquanto o país atravessa um emaranhado de crises: civilizatória, moral, política, social, jurídica, sanitária, econômica, e mais.
O retorno forçado do futebol em meio à pandemia do novo coronavírus é substancialmente inquietante. Não apenas porque é reflexo de governos irresponsáveis, que alardeiam a necessidade do fingimento de normalidade, que vitima cidadãos, formados ou não, melhores ou não, mas porque é um ataque direto ao espírito do esporte. Quando se agenda um jogo de futebol num templo sagrado, dividindo espaço com um hospital de campanha, contando gols e mortos numa mesma manchete, de portões fechados e valendo-se os mandatários dos campeonatos de tenebrosas transações e tráfico de influência, arrasta-se para a lama um elemento fundamental do entendimento do que é o Brasil.
Se, sim, é fato que passaremos por tudo isso nessa pandemia e isolamento meia-bomba que só adia o problema, a questão é como chegaremos ao outro lado.
Será que terei pelo futebol a mesma paixão?
Daí que o fato de editar este número da Papo de Galo_ revista, o #5 de sabe lá quantos que virão, ajuda a solucionar parte desse problema. Aspecto evidente: se decidi por escrever sobre futebol, é porque ainda pulsa um coração que quer correr atrás de bola.
Ao mesmo tempo, optei transformar a inquietude com o compartilhamento funéreo do futebol em objeto de estudo. Tal qual o Maracanã, o Pacaembu e a Fonte Nova neste 2020, em quais outros momentos históricos repintou-se campos de jogo em hospitais de campanha?
Por óbvio, não se trata de detalhar todos os momentos, mas selecionar histórias incríveis, de como o templo sagrado, o estádio de futebol—e de outros esportes também—, cedeu espaço para se tornar hospedeiro de necessidades maiores.
Vamos juntos!
Foto de capa: Foto: Luiz Paulo machado | Placar (1976)
Editorial publicado com exclusividade na Papo de Galo_ revista #5.
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