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Por quem Bolsonaro está impedido de agir contra a pandemia?

Por quem Bolsonaro está impedido de agir contra a pandemia?

  • STF não travou ações do Governo Federal
  • Mentira e covardia são o centro da narrativa governista
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À porta da aprovação de uso emergencial das vacinas de Butantan/Sinovac e Fiocruz/AstraZeneca, enquanto a pandemia acelera, Manaus entra em colapso por falta de oxigênio, o Rio de Janeiro vê agravar sua situação, o índice R de contaminação se aproximar de 2 em São Paulo, Pazuello segue sua gestão indigesta e incompetente à frente do Ministério da Saúde, Bolsonaro usa e abusa de uma farsa para justificar sua morbidez perante a tragédia. O argumento da vez é que o governo federal foi impedido de atuar pelo STF.

Chamemos as coisas pelo nome certo: o nome desse ato de Bolsonaro, aceito pela claque, é covardia e mentira. Covardia porque o modelo de atuação deste governo é esconder a ignorância por meio da força bruta. Grita, pede arma, monta milícia virtual, para buscar nunca assumir responsabilidade de nada. Tudo é sempre culpa dos outros.

E a mentira, como dita as regras da era das fake news, se apodera de algo que parece verdade, mas descontextualiza por completo esta impressão e a torna o elo com a realidade de um emaranhado de mentiras. Assim, pois, foi feito com o STF e a decisão sobre autonomia de estados e municípios.

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Ministro da saúde, Eduardo Pazuello, em coletiva sobre ações de enfrentamento ao coronavírus do Governo Federal no Amazonas. Apesar do aviso reiterado do caos que se aproximava de Manaus, o ministro “especialista em logística” nada fez.
Foto: Euzivaldo Queiroz / Especial MS

Narrativa recorrente

O STF já é inimigo do Bolsonarismo. Como elemento de contrapeso aos rompantes autoritários de Bolsonaro, é peça central do desmonte institucional pretendido pelo projeto de déspota. Há, portanto, uma tendência à rejeição do que vem do STF.

O fio de conexão é a decisão ratificada no plenário do STF em 15 de abril de 2020 sobre a autonomia de estados e municípios para definir ações de isolamento social e definição de serviços essenciais. Para entender esta decisão, é necessário compreender em que posição estava – e ainda está – o governo federal com relação à pandemia.

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Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, vocifera na reunião de 22 de abril contra os “vagabundos do STF”. As estruturas de contrapeso de poder são alvo constante de ataques do governo.
Foto: Reprodução.

Contextualizando março e abril de 2020

Naquele instante, Luiz Henrique Mandetta tinha recém sido demitido do cargo de ministro da Saúde, entrando Nelson Teich. Mandetta saiu atirando, expondo o aspecto negacionista do governo, que aproveitava para estimular manifestações golpistas.

O momento era de absoluta instabilidade. O rompante golpista de Bolsonaro advinha da certeza de que o impeachment era inevitável. E se naquele momento a queda de Bolsonaro tinha crimes comuns e de responsabilidade demais para justificar seu impedimento, hoje, passado quase um ano e vivendo uma crise que já vitimou mais de 200 mil brasileiros, ele acrescentou novos crimes e extensas imoralidade ao seu currículo de especialista em matar.

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Bolsonaro anda a cavalo durante manifestação de cunho golpista e antidemocrático em março de 2020. Queda do presidente era iminente, mas ele foi ‘salvo’ pela pandemia. Em reportagem da revista Piauí, o presidente vaticinou: “vou intervir”.
Foto: AFP

A decisão do STF se sustentava no fato de que o governo, no embrião da pandemia, lutava para que nada fosse efetivamente feito. Agia para estimular que as pessoas fossem às ruas, enquanto em outros países pessoas morriam aos milhares. Era, pois, uma medida que garantia a estados e municípios a possibilidade de decidir por si, sem o mando irracional de um governo negacionista.

Apenas uma semana depois, o Brasil assistiu abismado à fatídica reunião ministerial que, entre discursos dissimulados sobre ‘passar a boiada’ e racismo velado no ideal de povo brasileiro único, Bolsonaro externou sua insatisfação, conclamando acesso facilitado a armas para que a população pudesse se insurgir contra aqueles que decretassem lockdown.


Pouco mudou

De lá para cá, o ímpeto pela queda de Bolsonaro caiu por causa da pandemia – e do rebote de apoio pelo auxílio emergencial -, voltando com força agora. Porque até para aqueles que julgam notas de repúdio como algo valioso – quando na verdade é só fingimento de quem não quer fazer nada sobre o assunto –, o caos em que o Brasil se encontra, somado à fracassada sanha golpista vista nos EUA – o que Bolsonaro procura não repetir ao garantir o apoio das polícias como sua milícia de sustentação – fez ver, de maneira inegável, que a intervenção rumo a uma ditadura teocrática sob a égide do “mito”.

Bolsonaro sabe o quanto a pandemia e a manutenção do medo são fundamentais para que seu cargo seja justificado.

Não é, portanto, à toa que este ataque constante ao STF, revivendo uma narrativa torta de justificativa à incompetência, ocorra justamente quando a queda do presidente parece não apenas inevitável, mas urgente. Assim, usa a decisão do usa para expandir a tudo, como se o governo federal nada pudesse fazer, declaração recorrente do presidente. Este palavriado, contudo, conversa apenas com os convertidos, que de alguma maneira veem o presidente como mártir oprimido pelo sistema.


Autoimpedimento na pandemia

Mas em meio a isso, Bolsonaro, de uma certa forma, acerta. Bolsonaro está realmente impedido de agir contra a pandemia.

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Foto: Adriano Machado / Reuters

Desde o início, ele tem interrompido pesquisas, negado a ciência, obstruído acordo com farmacêuticas, estimulado o movimento antivacina, não planejado compra de insumos, aumentado impostos de produtos essenciais como cilindros de oxigênios, incitado manifestações anti democráticas, agido contra o isolamento social e o uso de máscaras, feito campanha e aumentado estoque de remédios que não funcionam, promovido inútil tratamento precoce, inventado um acordo inexistente para buscar vacinas na Índia, não dado auxílio a pequenos empresários prejudicados pela necessidade de interrupção de atividades, promovido desemprego, descarrilado a economia, visto pico inflacionário, lutado pelo fim do auxílio emergencial, mentido reiteradamente sobre dados e ações, criado antagonismo com quem busca soluções efetivas, ignorado avisos de colapsos, além, claro, dos incontáveis crimes cometidos.

No que se conclui que Bolsonaro está impedido de agir contra a pandemia não por culpa dos outros.

Bolsonaro está impedido de agir contra a pandemia porque está ocupado demais agindo a favor da pandemia.


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