As respostas quase condescendentes de Onyx Lorenzoni e de Marcos Cintra sobre a postura falastrona de Bolsonaro no caso do pretenso aumento do IOF demonstra que o seu gabinete não o respeita.
***
Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Lucas, 23-34
***
O tal mercado, fiador da eleição de Bolsonaro, foi atingido de surpresa com a notícia divulgada pelo próprio presidente de que haveria aumento do IOF para compensar subsídios a algumas empresas. Afinal, o anúncio contradiz grosseiramente a mensagem repetida em campanha de redução dos impostos. Houve, consequentemente, agito nas centrais de poder.
Percebendo o problema grave gerado, uma reunião em Brasília de última hora foi chamada pelo Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para se entender o que fazer. Antes mesmo da reunião, Marcos Cintra, Secretário Especial da Receita Federal desmentiu o Presidente. O encontro ocorreu sem a presença de Paulo Guedes que, segundo ele, estava em agenda oficial no Rio de Janeiro. Logo em seguida, entrevista coletiva para explicar o que realmente tinha acontecido.
E o tom na coletiva, ao olho treinado, demonstra total insubordinação à figura do Presidente. Ou pior, de falta de respeito ao superior hierárquico.
Não se trata de fato novo. Recentemente, correligionários de Mourão falavam abertamente em evento de aniversário do PRTB que ele seria presidente ainda neste mandato. Sergio Moro também já externou sua possibilidade de sair do governo se as coisas não caminharem bem. O mesmo afirmou Paulo Guedes que, fiel ao seu estilo, foi mais enfático.
Quando a emenda fica pior que o soneto
Quando entra, então, Onyx Lorenzoni e seu estilo bonachão-confrontador a dar satisfação ao mercado, a emenda fica pior que o soneto. Menos até por ser mais um episódio em sua equipe não fala a mesma língua – Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni, inclusive, se bicam continuamente disputado poder e influência. Trata-se, portanto, da forma como Onyx conduziu a mensagem.
Onyx sorriu como uma mãe a se desculpar sobre a impulsividade de seu filhinho incontrolável. Disse ele que Bolsonaro não tinha entendido, que havia se equivocado. Continuou que Paulo Guedes tratou de explicar as coisas com calma, e que, agora com tudo acertado, não há mais dúvidas de que o aumento do IOF está sepultado. Aproveitou o ensejo para reforçar que a redução da alíquota máxima do IRPF – também alardeada pelo Presidente – não vai acontecer.
Decerto não seria sequer necessário infantilizar ainda mais a imagem do Presidente. Sua capacidade argumentativa já diz muito sobre em que estágio ele se encontra nesta questão. Mas a atuação de Onyx como o salvador da normalidade soou estranha. Porque nas entrelinhas pode-se ler “ah, gente, desculpa aí, sabe como é, ele não entende muito as coisas e sai falando o que não deve. Mas agora eu conversei com ele e está tudo bem.” Pareceu convocar Lucas, 23-34, “perdoai, ele não sabe o que faz.”
Há de reiterar que não se trata de uma fotografia, mas de um filme. E neste filme impera não apenas o descontrole do mandatário, mas também uma crescente falta de respeito dos seus subordinados ao que ele representa.
Certamente teremos novos capítulos muito em breve.