Aprendi com meu pai a puxar e a manter uma conversa. A cumprimentar a todos como se fossem grandes amigos de toda uma vida. Certa feita cheguei a uma padaria aqui em São Paulo, para uma reunião de trabalho com um amigo. Com o pessoal da padaria, bons dias, sorrisos, brincadeiras, de ambos os lados. Ele, então, um tanto surpreso, me pergunta:
– Nossa, você vem sempre aqui?
– Não. Primeira vez.
OK, a Bahia ajuda nesse sentido. Na terra onde relações profissionais são inexistentes, qualquer interação se segue na base da simpatia. Como já escrevi em outro momento, o mundo tem muito o que aprender com a Bahia.
Daí que eu gosto de puxar assunto. Quero saber, quero conversar, quero provocar. É divertido, você deveria tentar conversar com um estranho. Estamos cercados de oportunidades todos os dias. Motoristas de táxi e Uber, a pessoa sentada ao lado no ônibus, no avião, um companheiro de trabalho com quem você nunca conversou… Olhe para o lado.
Claro, tem que ir de guarda baixa. Tem que saber ler a pessoa para entender até onde se pode ir. Tem alguns que não querem papo. Outros tantos não abrem muita coisa. Agora, a maioria, e quando eu digo maioria, digo quase todo mundo, quer conversar, mas…
Aqui, no mais das vezes, acontecem duas coisas.
Uma, a pessoa não está acostumada, não sabe, parece que o papo bate sempre numa parede. Questão de exercício, penso.
A outra, muito mais relevante, mais importante, mais significativa: a pessoa acredita que a história dela não é importante.
Daí você pensa: o que você tem a ver com a vida de um estranho?
Realmente, nada. Mas tente mudar o sentido da pergunta: o que o estranho tem a ver com a vida dele mesmo? Ora, TUDO. Cada um deveria ser o maior entusiasta de sua própria história. Porque, bicho, toda vida tem uma história do caralho. Não tem que ser a mais do caralho de todas as histórias do caralho, mas, caramba, é a sua!
Proponho um exercício. Pode ser antes de dormir, pode ser no banho, de frente para um espelho, enfim, num momento em que você esteja sozinho. E se pergunte: qual é a minha história?
Se, por acaso, você achá-la meio sem sal, que não seja nada além do “fiz o que deveria ser feito”, esteja certo: trata-se apenas de uma questão de olhar com outros olhos.
***