(quando ela importa, ou não)
Para Donald Trump, o nacionalista branco (white nationalist) que passou o carro sobre manifestantes contra os eventos deploráveis em Charlottesville é um assassino. Para ele, quando um muçulmano passa o carro sobre pedestres em Paris, ou Nova Iorque, é um terrorista. Segundo ele, não é necessário discutir “semântica”.
Ora, neste caso, é, sim, senhor.
São tipificações criminais absurdamente distintas, com ramificações também distintas. Além do endosso indireto ao ato. Se for branco com uma causa, pode.
Ao mesmo tempo, um banco de estúpidos resolve usar a decisão de retirada da estátua de Robert Lee como pano de fundo para exacerbar sua estupidez. Cortina de fumaça. Ressuscitam cânticos da época de KKK e, ainda pior, dos regimes nazi-fascistas, como “you will not replace us”, “jews will not replace us” e “blood and soil”. Líderes nacionalistas brancos se alinham para falar em público. Na sexta, a famosa “torch walk” da KKK é revitalizada, um assombro inaceitável nos dias de hoje. Empenham bandeiras dos confederados, e, ainda mais inacreditável, emblemas nazistas e suásticas. Carregam orgulhosos, armamento de guerra, em tentativa de intimidação. Quando questionados, um dos líderes afirma que “se esforça, todos os dias, para NÃO ser uma pessoa melhor.” Que “se tiver que, matará todo mundo.”
Existe o ódio em sua forma mais explícita.
Um grupo opositor se vale da óbvia ameaça contra os direitos civis e vai para o ataque. Alguns, mais exaltados, agridem o palestrante quando ele começa a falar.
Para ambos os grupos, o lema deve ser “aceita que dói menos.” Lei do mais forte, estamos nas savanas e todo mundo querendo ser leão.
No meio desta imbecilidade toda, a discussão que se vale é: é direita ou esquerda?
Um texto tenebroso em forma, conteúdo, lógica, história (afirma, por exemplo, que Black Lives Matter é a evolução do Black Panthers, uma canastrice que não possui qualquer elemento factual de causa, talvez apenas ter “black” no nome”), e se diz propagar “a verdade dos fatos”. Não há sequer uma verdade nos fatos enumerados. Diz ser não “influenciado pela mídia tendenciosa”, mas deve assistir Fox News. Sua bobagem agrada aos ouvidos de alguns, no entanto.
Cooptados pela necessidade do belicismo, gigantescas amebas comem a pilha e gritam, cada qual a seu modo, sem saber argumentar, ouvir ou estabelecer conexões lógicas.
Oi? Animais nas ruas revivendo períodos de ódio e ameaças e gente pagando pra ver se é de direita ou de esquerda, como se isso validasse ou não o acontecido?
Neste caso, a semântica não vale de absolutamente nada. Intolerância não merece oitiva. Deve ser combatida criminalmente pelo que é. Todo o resto é trololó, conversa pra boi dormir, cortina de fumaça para algo muito pior: o monstro que existe em cada um de nós, protegidos pelo grupo e agindo exponencialmente em bando.
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