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Quando o Rio foi

No barranco na Lagoa Rodrigo de Freitas, aqueles sem ingresso se alojavam e aos poucos se espremiam esperando aquela que seria a terceira medalha do Isaquias. Uma repórter do SporTV chega junto, conversa com uma família que torcia para que o tempo abrisse e que o ouro chegasse. O Cristo precisava ver.

Famílias empolgadas. Crianças que até uma semana antes sequer sabiam o que era remo, vestidas de Brasil. Com eles, húngaros, dinamarqueses, alemães.

Gente de todo o mundo.

Dali me vi em Copacabana, triatlo estava para acontecer. Na virada para a bicicleta, o trajeto que passava atrás do prédio vira ponto de incentivo e esperança de alguns frames na transmissão. Rouquidão em menos de 5 minutos. Irlandeses nos muros, espanhóis, dinamarqueses, americanos. Franceses exibiam orgulhosos sua bandeira e exalavam um cheiro exótico, porque estereótipos estão aí para serem confirmados, por que não?

Um grupo de atletas australianos descia de credenciais no peito.

Tranquilo, de chinelo, bermuda e camiseta, Ruy Castro passa despercebido, trazendo um ar de bossa a tudo o que se via.

Bares cheios, restaurantes lotados. Um clima de confraternização que não se cabia, transbordava. Dias que acabavam às 7 horas da manhã, para recomeçar na primeira competição do dia seguinte. Atletas, com povo, com turistas, com organizadores, com voluntários, com curiosos. Todos eram um.

E assim era o tempo todo.

A maratona veio jogar na cara do mundo o deslumbre que é o Rio de Janeiro.

Independentemente do legado estrutural, ficou um legado filosófico mais do que valioso. Conseguimos entender, aqui dentro de casa, o que significa essa tal globalização. Que nós podemos. Com jeitinho brasileiro, porque o que temos de melhor estava ali para ser absorvido.

Não nos proveram o pão, mas nos deram o maior circo criado. E foi lindo. E funcionou. A cena do apagar da tocha olímpica foi marcante, tocante. De uma sensibilidade única.

No final, todos juntos no Maracanã. Não havia clima de despedida, havia clima de festa, como que a festejar e a agradecer. Não somos de adeus, somos de até logo. Me liga e a gente marca. Passa lá em casa.

Feriado na segunda-feira para os cariocas, o enterro dos ossos para suavizar o baque do dia útil. Amanhã vai ser outro dia.

A paisagem, o povo, a festa, uma capital do mundo. Aquele que se canta.

Durante muitos anos o Rio foi a cidade que poderia ter sido. Durante estas duas semanas dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro foi.

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